Proximidade.

"(...) Meus olhos são pequenos para ver

o mundo que se esvai em sujo e sangue,

outro mundo que brota, qual nelumbo

— mas vêem, pasmam, baixam deslumbrados."

Carlos Drummond de Andrade, em A Rosa do Povo.

Nos últimos dois dias só tenho lido e visto coisas acerca de um único assunto: Holocausto.

Assisti ao filme "A lista de Schindler"(ato que há muito tempo eu vinha prolongando), que por sinal recomendom, e muito, às provavelmente poucas pessoas que ainda não o viram. Comecei a ler sobre o assunto, bom, é claro que eu já tinha um embasamento sobre este, mas confiar somente em livros didáticos chega a ser ingenuidade, portanto busquei mais fatos na internet e conversando com o meu professor de história.

Coincidentemente hoje na aula de história(eu faço 3o ano do ensino médio), foi passado um documentário sobre Auschwitz.

Agora há pouco, saí da minha aula de inglês e enquanto vinha de ônibus para cá(agora são mais ou menos umas 18:30, estou sem relógio por perto) vim pensando muito sobre isso, mas aqui só virão reproduções, os pensamentos já estão perdidos, provavelmente para sempre.

O que mais me choca em relação ao Holocausto - além do fato em si , é claro - é o quão próximo ele está da minha(nossa) época. Meus avós, por exemplo, tinham a minha faixa de idade quando ele ocorreu.

Não foi nos períodos bárbaros, nem na era nômade, ou em sei lá que período desgastado da história, que o Holocausto ocorreu. Não foi na época brutal do homem (falo no sentido de rudeza, falta de teorias). Ele não está representado nas pinturas ruprestes das rochas, nos papiros egípcios ou nos pergaminhos medievais. O Holocausto está em vídeos e fotos, muitas até coloridas.

As figuras de Hitler, Himmler, Goebbels, Amon Goethe e tantos outros estão acessíveis a qualquer um. Nós não temos um esboço deles, nós temos acesso às suas faces, com todos os seus detalhes. ele não homens-lenda, como tantos guerreiros de antes de cristo, mas sim homens reais, de cujos podemos distinguir a cor dos olhos, o contorno da face e dizer: "sim, são humanos e fizeram o que fizeram". Mais que isso, o difícil de acreditar é que não foram 1, 2 nem 100 homens que se dispuseram a eliminar uma raça, e sim milhares, o que prova que a educação e o ambiente em que um ser humano vive, pode sim fazê-lo perder a compaixão e o senso de humanidade, que tantos dizem ser inerentes a todo homem.

No calendário da história o holocausto foi ontem, apenas duas gerações antes da minha. A Alemanha, terra-pátria dos maiores filósofos que já passaram pela face desse contraditório planeta, foi também o palco da maior estupidez e desrespeito que um ser humano pode cometer contra outro.

Restaram poucas testemunhas. E algumas ainda estão vivas!

Daí se tem a proximidade de tal acontecimento.

E eu penso: quão longe estamos de algo parecido ou, que seja, de algo que nada tenha a ver com isso, mas que traga consequências tão desoladoras quanto?

Hoje é tudo tão "aparentemente" calmo.

No Iraque vão morrendo muitos só que aos poucos, como se fosse uma anestesia, como se fosse para não doer, para não chocar o resto do mundo.

Faixa de gaza, bum!

Líbano, bum!

Rio de Janeiro, bum!

"Pequenas Guerras" resumidas em cinco minutos no noticiário da noite. São essas as citadas, todas as outras ocultadas, consideradas insignificantes.

E assim a história é ocultada. Paro por aqui.

30/05/07

TMB
Enviado por TMB em 02/06/2007
Reeditado em 02/06/2007
Código do texto: T510948