Moralidades imorais

A desmoralização não é só do governo, é do povo! Estamos perdidos, encalhados nas arapucas armadas pela inversão dos valores; por uma interpretação de que a regra do sucesso pessoal é ganhar dinheiro de qualquer maneira, respaldado pela mentira de que um percentual sério da sociedade é suficiente para sustentar a ideia de uma nação viável. Em nosso país a palavra contrato encerra um infinito ritual de sutilezas que afrontam a base da ética, e que por isso mesmo, adquire o glamour maldito que põe aspas nos chamados bons negócios. Em outras palavras fazer sucesso nos negócios é ganhar sem medir nenhuma consequência e se utilizar de qualquer estratagema. Quantos “capa de revista” não tiveram seus nomes ligados posteriormente (ou não) a falcatruas jamais provadas sem que seu prestígio fosse questionado pela clark dos admiradores do sucesso? A corrupção, palavra que já nem tem mais o impacto devido no imaginário social, permeia como uma peste invisível todas as camadas da sociedade brasileira fazendo-a aceitar os jogos e, tal como nas plateias das arenas antigas, aplaudir o flagelo como espetáculo esquecendo de que hoje, ao mesmo tempo, eles são os próprios sacrificados do círculo. Como podem as empreiteiras e os políticos beneficiados pelos percentuais que usurpam nas negociatas fazerem parar obras cujo montante que já lhes foi irregularmente auto destinado é mais de cinco, seis, dez vezes o que deveria ser a obra? Além de todos os valores que foram para destinos imprecisos, há o atraso e o desemprego levando as famílias ao desespero. Por que temos (incluindo aí as famílias desesperadas) que tolerar mais aumento nos impostos se esse dinheiro que serviu principalmente para o enriquecimento deles não retorna nunca aos cofres públicos? Até quando vamos financiar com impostos escorchantes, como na idade média, o absurdo enriquecimento dessas famílias de quadrilhas que ninguém ousa enfrentar por ter seus tentáculos, permitida ou compulsoriamente, envolto em seus pescoços? Toleramos aumentos de preços por especulação como parte do jogo do livre comercio embora saibamos dos exageros motivados pela exacerbação da ânsia de lucro. Aguentamos aumento de tarifas públicas pela limitação, esgotamento, subdimensionamento, desatualização e negligência das autoridades nomeadas por afinidades escusas; suportamos várias vias de taxação paralelas com destinação erma, como por exemplo: estradas PPP com tarifas de pedágio irreal mais IPVA de Cadilac para pagar carroça, etc. Não vou me alongar nessa lista para não virar livro. A quem o cidadão brasileiro, de verdade (e não partidário) irá recorrer, já que o “partido da esperança” enfiou os dois pés e a cabeça na jaca mole nacional desencadeando, empurrado pelo despeito ou não de seus opositores na defasada luta de classes, do radicalismo ideológico para a maciez andrógena da afinidade do poder, para o poder e pelo poder. O enraizamento se espalha subversivamente pelas instâncias numa confusão de casuísmos para que se perpetue o status de todos que de alguma forma se beneficiem dele. Pinçar ideia ou pessoa imune é trabalho árduo e continuamente sob um clima de suspeita que jamais saberemos se é justa.