UMA BRASILEIRA VALENTE

“Quem não ajuda outras pessoas, não tem história para contar!”

(MÔNICA)

Nosso relato começa com Givanildo, o irmão mais novo de minha esposa. Ele morou alguns meses aqui em Uberaba, tinha na ocasião, pouco mais de vinte anos. Todavia, não conseguindo adaptar em Minas voltou para a capital paulista. Pouco tempo depois, ligou para a irmã dizendo que tinha encontrado a alma gêmea de sua vida e já estavam vivendo juntos. E em seguida, passou a ligação para outra pessoa.

Pela voz, minha esposa percebeu tratar-se de alguém muito jovem, quase uma criança. Esse primeiro contacto não foi muito animador. Visto a adolescente em questão, ter saído de sua casa sem o consentimento dos pais para viver com uma pessoa desempregada, como era o caso de Givanildo. Tal atitude, aparentemente denotava uma tremenda falta de responsabilidade.

Contudo, passados alguns meses, recebemos em nossa casa uma correspondência dela, falando que já havia arranjado emprego de ajudante em um salão de beleza e meu cunhado estava trabalhando como “camelô”, no centro de S. Paulo. Também, aproveitou para mandar uma foto do casal. Na foto, abraçada ao rapaz, via-se uma menina loira de cabelos lisos e compridos. De baixa estatura, feições finas e simétricas, mas sem maquiagem perceptível. Todavia, o rosto mostrava uma determinação que impressionava, mesmo pela fotografia.

Naquela época, a internet ainda não tinha chegado às camadas mais pobres da população. Givanildo não tinha telefone fixo em casa, então não havia como comunicar-se com eles, a não ser por carta. A morte prematura do irmão mais velho de minha esposa fez com que, deslocássemos até S. Paulo.

Apesar da tristeza familiar, pudemos conhecer a nova integrante da família. Aparentemente, não se via nada de especial naquela jovem. Verônica, era esse seu nome, morava com seu marido num casebre construído no fundo do quintal de seus pais. Uma vida humilde como a de outros tantos que habitam os subúrbios das cidades.

Entretanto, passados mais de 25 anos pode-se dizer tranquilamente que essa moça era uma pessoa diferenciada, bem acima da média. Mesmo porque, o conhecimento da personalidade de alguém, só é possível de ser compreendida, quando se tem um período de tempo suficientemente longo para se fazer uma análise com maior profundidade.

Nesse espaço de tempo, juntamente com seu marido criou dois lindos filhos, Já tinha seu próprio salão de beleza que funcionava nas dependências de sua própria casa. A perda de privacidade do lar, em contrapartida, possibilitou à conciliação do trabalho com os deveres domésticos.

Labuta dolorosa, pois encontrou tempo para cuidar de uma irmã doente até sua morte prematura vitimada por Aids. Posteriormente, assumiu a educação da filha da falecida. Nesse ínterim, sua mãe vendo a filha agonizando até a morte, sofreu um desequilíbrio mental. Tal problema resultou na separação de seus pais. Vendo o sofrimento da mãe, Verônica levou-a para sua casa.

Quão triste é presenciar a deterioração física e mental das pessoas a quem se preza. Sentir na pele os efeitos deletérios do preconceito inerente a uma morbidade dessa natureza. Confortar, limpar feridas, não dormir a noite esperando melhoras ou o desfecho da doença terminal. Tudo isso, é uma tarefa demasiadamente árdua de ser executada.

Ademais, observar a angústia da mãe, que não resistindo a tanto sofrimento, refugiou-se na loucura. Ver o pai, num gesto de fraqueza, abandonar a própria família. Mesmo assim, ter forças para continuar cuidando de todos, apoiando-se unicamente no marido, filhos e em DEUS.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 30/01/2015
Reeditado em 31/12/2015
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