ENQUANTO O SONO NÃO VEM

Estava numa luta quase desleal com três pinguins, todos eles da mesma Distro, quando preparava-me para mandá-los dormir a vidraça balançou, de prima pensei que eles tivessem recebido reforço, mas não, simplesmente uma brisa morna pela janela, na minha vista sob a luz da Lua uma imensa amendoeira balançava os galhos, galhos que estão com os dias contados, pela morte certa que ela terá para desfrute do zelador do prédio que ela protege do Sol matinal. Zelador que já surpreendi em comentários sobre a sujeira que as folhas fazem, comentários que exalam vapores ácidos que só não matam as árvores da calçada, pois lhes entreguei aos cuidados do Santo João Paulo.

Daqui da janela, quando é dia eu avisto o crescimento acelerado da erva de passarinho rumo ao sufocamento da amendoeira, a assassina de inflorescência amarela e bem cheirosa esconde a morte em suas raízes.

A brisa e a luz da Lua trouxeram-me lembranças de um nó na tabua de pinho bem na cabeceira da cama de ferro que eu dormia, quando ainda era criança. A casa no estilo da colonia italiana não existe mais. Um dia descobri que o nó somente saia para o lado de dentro do quarto, então quando havia Lua cheia eu espiava a brisa balançar os eucaliptos de um bosque numa pequena elevação já dentro do parque Saint Hilaire, mas quando não havia luz da Lua o medo mantinha o nó no seu lugar. Bem no meio do bosque havia uma clareira a espera de um disco voador que não chegou, assim era melhor de adormecer, sem aquela história entediante de contar carneirinhos ou lutar contra pinguins.

Outro dia passei por lá e reparei bosque ainda está firme, inclusive a clareira esperando pelos discos.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 04/02/2015
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