Afinal, quem sou eu?

Lá vou eu de novo, em minhas "psico-viagens"

Acho que sou uma contradição mesmo, porque ainda ontem, parado, sentado em um banco, olhando meu cachorro, que olhava para mim, da mesma forma que o olhava, sem expressão, sem sentido, sem pensar em nada concreto, lógico e com algum nexo, peguei a falar comigo e com ele. Digo isso, porque, pensava sim, mas em tantas coisas ao mesmo tempo, que se alguém, como sempre, perguntasse: "No que voce está pensando?". A primeira resposta de bate-pronto, como sempre, seria: "nada". Mas sei que eram coisas loucas de se pensar, por isso, não daria para responder para ninguém. E sei agora, mais ou menos, onde eu "viajava".

Coisas existenciais, tipo "o que eu estou fazendo aqui, por quê e para quê?". Não aqui na terra, aquelas coisas mais loucas, mas aqui, nesta toca onde moro, com vários compartimentos, e apenas duas pessoas, um cachorro e dois gatos morando nela.

Será que sou amigo do meu cachorro, ou ele é que é meu amigo? Acho que ele é mais eu do que eu mesmo. Naquele momento, somos dois indivíduos “normais” trocando idéia, e acho que ele é mais sábio do que eu, quando lhe falo dessas loucuras e ele simplesmente num bocejo, deita-se, e me olha com cara de quem diz : "Véio, não viaja".

Mas insisto na conversa, e falo para ele que sou uma contradição, sou uma figura heliográfica, uma falsa imagem de homem. Nesse momento, ele fica atento, levanta as orelhas com olhar perscrutador, sorrindo, talvez a pensar:“Nossa, será que ele também é um cachorro? Eu sabia!”. E continuo o papo sem ligar para o que ele pensou, se não, acabaria mordendo-o. Às vêzes, não sinto que esse sou eu, que sou outro dentro de uma casca inadequada para mim. Que na hora de colocar os "eus" dentro de cada carcaça própria, erraram a minha e me despacharam assim mesmo. E aqui estou eu, com este meu "eu" desconhecido. E o pior, não dá para reclamar no "Reclame Aqui" e pedir a troca. Já era, disseram que agora, só na outra, e nem vou ficar sabendo que havia sido trocado.

Nossa! meu cachorro quis me morder agora, do nada. Será que ele entendeu o que eu disse? Ou melhor, entendeu as palavras, porque, nem ele, com toda sua sapiência, entenderia essa merda toda.

_ Mas é isso mesmo, cachorro! Você mesmo, ora me lambe, ora me morde, ora pisa no meu pé, com estas patas de urso (ops! desculpe amigão, se te ofendi).

Pois é, mesmo assim, arriscando levar uma mordida de advertência do meu amigão, continuei, pois, estava ensandecido com esta idéia, e não conseguia parar. Acho que estava no limiar entre a razão e a loucura. Mas é verdade! Eu estava trocando idéia com meu cachorro normalmente, ele me entendia. Que loucura há nisso? E se eu mesmo estou falando que poderia ser loucura, então, não estava ou...não estou louco. Afinal, o que é loucura? Loucura é construir castelos nas nuvens, ou não? Bom, se bem que já construí um, e ainda morei lá por uns tempos, e estou aqui, normalmente, vivendo o que todos chamam de realidade, tentando discernir entre a razão real e a razão emocional, quem sou eu?

Lá vem esse “eu” de novo, tomando conta da conversa; desviei o papo para os castelos de sonhos, que é mais bonito, para fugir dele, mas não teve jeito; Esse “eu” sou eu. E não sei qual destes “eus”, em determinado momento, quando meu amigão deu um cochilo (devia estar de “saco cheio”), deu uma saidinha de dentro da casca, para olhar de fora, como realmente era o invólucro real do seu eu verdadeiro.

Isso sim, foi “louco” (louco de loucura, ou louco de legal demais, na gíria popular dos “manos”?), por milésimos de segundos, parece que houve um curto-circuito no sistema dos “eus”, pois ninguém mais sabia quem era quem. Quem realmente estava controlando a situação, quem realmente saiu e quem ficou sentado no banco? Quem estava avaliando quem? Impasse, loucura; um diz “ eu sou eu, então quem é você?” O outro: “Oras! Deixe de loucura meu amigo, eu é que sou você.

Nesse momento o gato apareceu, mordendo o rabo do cachorro e querendo entrar no papo. Sorte, porque ele acordou, pegou seu pano de brincar e chamou-me para a simples realidade da vida, mais uma festa de rasgar panos. E lá fomos nós para mais uma brincadeira de cachorros. E eu, fiquei no banco, assistindo e pensando: “acho que sou uma contradição”.