Crônica I

Ela entrou no meu consultório. Era a primeira do dia no primeiro dia de trabalho novo. Eu estava um pouco ansiosa e exibia um sorriso enorme que tomava metade do meu rosto.

- Bom dia! – disse, ainda sorrindo.

- Olha só. Essa é a terceira vez na semana que eu venho neste lugar e meu filho não está melhorando. Ele tem febre e está tossindo e vocês só passam remédio, remédio e mais remédio! Assim não dá!

Nesse momento, eu percebi que não seria tão fácil.

- Mas minha senhora, médico trabalha com remédio. Não dá pra passar outra coisa. Por isso se chama “medicina”.

- Ah, então você vai passar remédio para ele TAMBÉM? – perguntou, em um tom de acusação.

- Eu ainda não sei o que ele tem, mas provavelmente sim.

- Meu Deus! Eu não aguento mais. É só isso que vocês sabem fazer?

Então eu me levantei da cadeira, me dirigi à maca que estava à minha esquerda e pedi, com todo o meu bom humor, que ela o colocasse em cima. Repousei minha mão direita sobre o rosto da criança que brincava com os próprios pés e disse.

- Vamos benzê-lo, então.

Finalmente, pela primeira vez na vida - suponho eu -, ela sorriu.