A NECESSIDADE DE IR
Dona Vivi, como era chamada Dona Viviana, viúva, morava com tres filhas moças, tinha também outras duas filhas casadas. Tinha três netos e sua vida era movimentada, sendo sua casa constantemente invadida por crianças que na correria e algazarra enchiam a casa e a vida de dona Vivi.
A vida transcorria normalmente até chegarem as festas de fim de ano, as férias e os feriadões. Nessas ocasiões, as filhas moças saiam para passeios e pequenas viagens, os netos com tantas opções de diversão, já não queriam mais o aconchego da casa da vó, para gastarem todo o longo período das férias escolares.
Nessas épocas, a paz enchia a casa de Dona Vivi, que acompanhada agora apenas do pequeno cachorro "amigo" dizia: "estamos de plantão". Ela parecia estar bem naquele estado de prontidão, de guardiã... Em nenhum momento sentia-se abandonada ou solitária, mas sim feliz por saber que os "seus" estavam divertindo-se, alegres e felizes, a ela bastava a posição tranquila de "plantonista".
Esta estória de harmonia familiar, leva-nos a um primeiro questionamento: até que ponto o "ir" é melhor que o "ficar"? Vivemos em uma sociedade onde a mídia nos induz a ir, não importando muito para onde. E na verdade sabemos que nem todos estão indo para lugares paradisíacos...
Tentam nos fazer acreditar que com a proximidade de uns dias de folga se não estivermos "indo", há algo errado conosco. Torna-se normal, nessas ocasiões, sermos questionados: "...Vais prá onde neste feriadão?"
Claro que são ótimos os passeios/viagens, sendo muitos deles valores que ninguém nos tira. Imperdíveis, portanto.
Mas que saibamos ser felizes também no nosso habitat, que como plantonistas, cuidando do que é nosso, estejamos de plantão para receber e reconhecer as dádivas que a simplicidade do nosso dia a dia sempre tem para nos oferecer...