BANALIDADE DA VIDA

Zona Sul do Rio de Janeiro, madrugada de 28 de maio, tudo parecia normal. São aproximadamente 1:00h da manhã, tiros começam a ser disparados em rajadas violentas. Tudo que se escuta são tiros e gritos de guerra. Turtle chegou em duas vans com muitos “soldados do mal”, como foram apelidados aqui, disparou contra a polícia e assim foi o restante da noite.

No dia seguinte, o medo tomava conta de toda a comunidade, que havia sido dominada pelo grupo de Turtle que se apresentou, depois de ter expulso os donos do pedaço.

Terça-feira de muita chuva, um silêncio mortal governava tudo, na quarta-feira imperava a lei do silêncio, ninguém nas ruas, nem com portas abertas após as 18:00h.

Não havia mais transporte, os moradores deviam subir e descer a pé, como havia necessidade de sair para o trabalho a maioria se aventurava, pondo a própria vida em risco. Outros bebiam na ladeira, como se nada tivesse acontecendo.

Os motoqueiros só podiam subir a ladeira até a guarita policial. Os soldados de Turtle desfilavam na comunidade.

Na quinta-feira os “donos da comunidade” retornam para tomar o que lhes “pertence”. Novos tiroteios a madrugada inteira.

Sexta-feira silenciosa quando às 18:14h recomeçam os tiroteios. Da praia de Copacabana onde surge uma lua cheia muito linda refletindo-se no mar, também é possível ver as luzes vermelhas que cingem o céu, são luzes de balas traçantes disparadas do alto do morro. Milhares de vida em risco. Policiais e repórteres nesse ínterim ficam na entrada da ladeira. Eles não conhecem o morro, nem a realidade das pessoas.

Finalmente, os policias resolvem subir o morro e ir de casa em casa, agora quem manda na comunidade é a polícia. Nova ordem. Em uma semana, a comunidade teve três comandantes distintos, os “Donos da Comunidade”, Turtle e seu bando e agora a polícia.

Na noite de sábado houve novos tiroteios, rápidos e logo acabaram.

Segundo consta Turtle e seu bando saíram pela Princesa Isabel, nas mesmas vans que os trouxera. Tudo parece calmo, mas o silêncio continua.

Milhares de vidas de trabalhadores que sobem e descem todos os dias centenas de degraus para chegar ao trabalho e viver em condições de vida insalubres.

A vida tornou-se banalidade. Parece a todos que isso foi uma guerra de comerciantes de drogas de facções opostas. Em princípio sim.

Toda mulher gosta de chamar a atenção. De usar roupas curtas, de ser assediada, afinal faz bem ao ego. Isso é ótimo, melhor seria se esse ego não fosse tão inflado quanto um balão e colocasse milhares de vidas em risco.

Todo esse tiroteio começou, segundo Turtle, porque seu sobrinho Smile cantou a mulher de um dos moleques da “Boca de Fumo”, três adolescentes. Ela poderia ter resolvido isso sozinha, mas prevaleceu-se do suposto poder do namorado que com uma arma na mão acaba sentindo-se mais homem que os outros. O pobre Smile foi surrado, sentindo-se desmoralizado vai a facção oposta e reclama ao tio a agressão sofrida.

Turtle vem tomar as dores do sobrinho, e esses quatro seres humanos que não sabem o que é o poder da tolerância, do perdão e do verdadeiro amor, expõe ao perigo pessoas que nada têm a ver com suas frustrações pessoais.

Até aonde iremos? As pessoas precisam ser mais tolerantes e começar a aprender a ver e respeitar o outro como seu semelhante, deixando de vestir as máscaras da covardia e atacando os indefesos como se fossem ratos que podem ser jogados numa vala ou num esgoto.

Felizmente ninguém morreu, mas quantos poderiam está enterrados?

Soliana Meneses
Enviado por Soliana Meneses em 04/06/2007
Reeditado em 27/06/2007
Código do texto: T514030
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