A CADA DEZEMBRO

A Cada Dezembro

A cada dezembro sucede um esperançoso janeiro. Vemos o girar do tempo e a inevitabilidade de seus acontecimentos. Roda tempo, roda ano, roda vida, rodam os mistérios que se embutem nos fatos fazendo-nos mais surpresos com as verdades e a pequenez de nossas possibilidades de concepções. Mas podemos nos tornar mais sábios e eficientes na caminhada da vida refletindo a carga surpreendente dos fatos que ela nos mostra levando, a cada ano, um pouco de tudo e um pouco de nós. A vida passa como um comboio carregado de momentos - comuns, prazerosos, compensadores, repetitivos, decepcionantes, inusitados , inesperados, alegres, tristes, quantas vezes, aterradores. Com o passar da vida chega o presente que sutilmente deixa para trás o que vamos chamar de passado e, devagar tudo passa a criar futuro.

Quero apreciar tudo, da janela, através desse comboio do tempo. Quero não perder o prazer das paisagens sejam elas quais forem. Ali se desenrola tudo que vimos, vivemos e criamos. Quero memorizar todos os pedaços de existência com suas etapas variadas e, de repente, descontínuas. Infância da maneira que pôde ser, juventude com despreocupações e lutas, as realizações da idade madura. Tudo pode nos rodar aos olhos, num degustar de saudade e de êxtase, de conformação e agradecimento. Satisfações e desgostos serão sempre lembrados clamando entendimento e explicação. Só o tempo aos poucos poderá ou não nos fazer entender. Cada sofrimento será aceito, curtido com a inteligência da alma e vencido como se vence as pedras no caminho.

Vantagens e desvantagens de tantas viradas do tempo, de tantos dezembros? O alcance da sabedoria que pode nos abrir mais e mais os olhos da alma. Da serenidade da verdadeira liberdade que nos faz mais maduros e seguros, mais autênticos e corajosos. Da individualidade que nos faz ser nós mesmos, mais soltos e intuitivos. Seria como dizer- me penetro, me conheço, me solto. Viajar com prudência e fé, coragem e determinação até a parada final.