A poesia de um físico

Eu escrevi sobre a morte, mas não me preparei para sentir. Agora, com a sensação de que preciso dizer algo sobre você que relembre o que significamos enquanto você ainda estava aqui, sinto que tudo foge de mim. Onde estão as palavras que surgem com facilidade diante do papel e os argumentos que transbordam quando eu não quero debater?

Me sinto idiota ao tentar falar sobre você, ao tentar falar sobre qualquer coisa que te defina como passado...

Por que estou falando como se você fosse escutar?

Por que escrevo como se você fosse ler?

Lembro de quando estávamos deitados, olhando para o teto escuro do quarto (depois de nos empanturrarmos de pizza e refrigerante), e eu te perguntei: Qual é o sentido da vida?

Não vi seu rosto, mas consigo imaginar a cara que você fez…

Sua voz respondeu de forma suave: A pergunta não deve ser feita dessa forma… Não existe um sentido que deva ser encontrado e seguido. Devemos criar nossos próprios sentidos e acompanhá-los, para que no final, quando voltarmos a ser o que sempre fomos: poeira, nossa pequena passagem por este planeta tenha significado algo para nós.

Qual sentido você deu para sua vida?

“Aprender”, você disse. “Me ensine algo que não sei”.

Mas eu não sabia nada. Como ensinar alguém como você, que esteve sempre tão perto de todo conhecimento que eu gostaria de aprender?

“Me ensine sobre a poesia”.

Eu ri, mas você insistiu.

A física e a poesia são primas distantes em um mundo de questionamentos. Você, com sua ciência, questiona os acontecimentos e procura respostas no universo. A poesia, com suas palavras, questiona os sentimentos e dá sentido ao universo.

Você segurou minha mão no escuro e ficou em silêncio.

Agora, com a sua repentina partida, apenas um assunto ficou inacabado entre nós: Você aprendeu sobre a poesia? Mas essa é uma resposta que nem mesmo os mais inteligentes físicos ou os mais inspirados poetas poderão encontrar. Tudo que me resta são memórias e aprendizados de dias que não voltarão, mas jamais se perderão na imensidão do universo, pois eu e você somos feitos de estrelas.

Fernanda Oz
Enviado por Fernanda Oz em 21/02/2015
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