Sonho de Carnaval

Sonho de Carnaval

Quis sonhar um carnaval. Cheio de brilho, euforia, recordações alegres e tristes. Aquele em que os foliões, numa pausa das algazarras momescas, brecam sua euforia maior e caem naquela melancolia romântica. Como se arrastassem uma fossa, feito ébrios num bloco de solidão. Sempre achei essa hora a mais gostosa do baile quando a autêntica melancolia da folia cai sobre nós, escavando mágoas, alegrias doídas e decepções. Sonhar um bom carnaval podemos e com muita imaginação viver novamente uma folia. E tentar:

HOJE EU NÂO QUERO SOFRER- Tenho que conseguir. Sofrer faz parte, mas posso empurrar o sofrimento para longe e confiar que naqueles momento ele me dará tréguas. Mas ele não é fácil de ser empurrado.

HOJE EU NÂO QUERO CHORAR- Mas como? Não, não vou chorar. Mas no carnaval as lágrimas, muitas vezes, confundem-se com o riso à qualquer emoção. Nessa hora vale todo desabafo.

DEIXEI A TRISTEZA LÁ FORA- Posso? Tristeza não é coisa que se descarta assim, num passe de mágica, sem trabalho e muitos cuidados. Sem concerto ou ajuda, sem motivos plausíveis que possam amenizar suas causas. Pior. Ela é pura fluidez e, assim sendo, paira onde quer no ar.

MANDEI A SAUDADE ESPERAR- Mas ela não espera! Não espera nem obedece. Saudade faz o que quer. Quem sabe posso fazê-la encolher-se a um canto, e rir-se da minha euforia?

QUERO ME AFOGAR EM SERPENTINAS- que todas elas em mim se enrolem, enquanto me divirto pelo salão, transformando-me num ridículo espantalho de tiras coloridas ao vento. E que me afoguem na alegria e no prazer.

QUERO VER MILHÔES DE COLOMBINAS- Esquecidas colombinas! Como são, onde estão? Quero vê-las cantando e rodopiando elegantemente pelo salão.

QUERO ME PERDER DE MÃO EM MÃO- Mas que mãos me acharão? Em que mãos, meu Deus, posso confiar para deixar que me levem e me arranquem dessa ilusória folia de solidão? Serão todos os seres fantasiados, cheios de brilho que me rodeiam alegremente. É nessa euforia que me perco. Dançando nos grupos de foliões vou encontrando o saboroso e verdadeiro segredo da liberdade, da alegria compartilhada, formando blocos e rodas. Se numa roda me perco, em muitas outras me acho. .

SER NINGUEM NA MULTIDÃO? É o melhor da folia, ser ninguém, é o que faz o bloco da solidão . Anonimamente, simplesmente, despretensiosamente ser você mesma... acordada... sonhando livre me vejo solta na multidão num enlevo de despreocupação, num embalo pleno de liberdade e autonomia, num despojar responsável de preconceitos e desunião... Incrível esbanjamento de ilusões!

Evane
Enviado por Evane em 22/02/2015
Código do texto: T5145941
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