MEU ÚNICO SONHO!

Eu, vocês me reconhecerão pelo texto abaixo. Morava em Conceição da Barra – ES, cidade tipicamente de veraneio, onde todos os anos, uma grande quantidade de pessoas, talvez um contingente bem maior que os moradores da cidade, no verão, desde dezembro até março, chega com seus carrões, barcos, muita bebida, muitos churrascos, muita alegria, muita festa, certamente confraternizando pelos bons resultados do ano que se passou ou até mesmo, para comemorar a vida, nosso maior bem.

Eu via tudo e alimentava, durante o ano inteiro, este momento mágico! Eu ainda muito jovem, com nove anos apenas, no início de minha infância, no desabrochar do conhecimento, dos desejos e sonhos. Diga-se de passagem, eu estudava normalmente, de janeiro a dezembro, ansiosa que chegasse o verão.

Haviam muitas famílias, próximas da minha humilde residência, as quais chegavam, de forma sorrateira, quem sabe para não demonstrar a fartura que eles traziam – acho que para não ostentarem tanto – faziam a descarga com portões fechados. Mas eu os via chegar. Eu andava a pé ou de bicicleta e tinha a oportunidade de ver a movimentação de entradas e saídas de pessoas.

Eles, na grande maioria, traziam comida para os pássaros, comida para cachorros, comida para gatos, para saguis – que até parecia saber quando chegavam – era uma festa só. Todos comiam abundantemente, certamente passando aos outros a fartura ali existente. Uns iam e quando voltavam, no mesmo dia, traziam consigo inúmeros outros pássaros ou saguis. Ali pousavam de tico-tico, sabiás, sanhaços, bem-te-vis – para este teremos um capítulo à parte, pois foi na Rua Bem-te-vi que mantive o maior sonho e a maior esperança.

Eu, assim como os saguis, adivinhava quando as pessoas chegavam – e como eles – eu buscava, naquele lugar mágico, não apenas comida como os pássaros e os outros animais. Ali, buscava tão somente um pouco de refrigério e de aproximação. É lógico que, em tendo abundância, também ousava acreditar que um bocado daquela fartura a mim chegasse. Mas o que me interessava era tão somente participar de um banho de piscina. Era tudo que eu queria. Era o meu maior sonho!

Em outras oportunidades, o pessoal da casa me convidou para com eles compartilhar aquela felicidade, tomei banho de piscina, almocei com eles – mesmo já tendo comigo alguma coisa na minha casa e, ainda, levava comigo um pacote de biscoitos que o meu pai me dera para, quem sabe, se na hora da fome nada me fosse ofertado eu teria o meu lanche para a sobrevida. Contudo, sempre me era ofertado algo para comer. O povo me parecia um povo bom e assim eu sentia bem quando eles chegavam.

Porém, na última vez que lá estive, levei comigo dois irmãos de idades – mais ou menos parecidas com a minha – de forma que, assim como os pássaros e os saguis fazem rotineiramente, pensei que eu também poderia levar meus irmãos comigo.

Esbarrei, entretanto, numa ordem superior – da dona da casa – (que me parecia mais uma ditadora ou delegada), a qual dizia que eu poderia ter ido só que me seria concedida aquele divertimento, contudo, não poderia ter levado comigo nenhuma outra pessoa, nem meus próprios irmãos. Daquele dia em diante, nem eu nem meus irmãos poderíamos usufruir daquele tão esperado banho de piscina.

E olha que eu estava apenas querendo tomar alguns banhos, sonho de qualquer criança, que, talvez por minha vontade de também ofertar aquele prazer a outras pessoas – meus irmãos – perdi de vez a oportunidade de ali permanecer, pelo menos em finais de semana.

Mas, na minha pequenez de criança, tive a sabedoria de entender que aquela negativa não se tornaria nenhum problema para mim ou para meus irmãos, que vivíamos o ano todo sem aquele conforto e, como em Conceição da Barra tem rios caudalosos e um mar inigualável, com águas quentes (mornas) e sol causticante. Entendi a mensagem e pedi a Deus que continue abençoando aquela família que me acolheu noutras oportunidades e que agora, sob a justificativa plausível de que tem muitas crianças na casa e que não permitiria a outras pessoas.

Além do mais, penso que não nos proporcionaram aquele refrigério naquela piscina, não por maldade deles, é que a piscina é um acessório ou complemento de residência muito particular, onde só membros da família tem a preferência, até por que, deixar pessoas de fora do ciclo familiar implicaria, também, numa maior vigilância por parte dos moradores para evitar-se acidentes ou até mesmo muita confusão no âmbito familiar, sobre os quais se tem maior controle e autonomia.

Não foi desta vez, porém, mais adiante, também terei minha própria piscina e saberei aproveitar na sua totalidade.

Conceição da Barra – ES, 20 de janeiro de 2015.

Escrito por Avelino Malacarne e fará parte de um novo livro.