ONZE - 11

Onze anos... como é possível já ter passado tanto tempo?!

E por que tudo me acontece nestes períodos - 11 horas, 11 dias, 11 meses... são dramas, momentos felizes? Por quê?

Nasci no dia onze de novembro de 1911. Nossa -11/11/11!! Percebeu isso? Tem mais coisas importantes...

Aos onze anos, fui transferida para o Educandário de crianças orfãs...

Durante um ano e onze meses, tentei a adaptação social, ou seja, conviver com crianças mais velhas, estranhas e malvadas... Ave! Como me judiavam sem dó! Eu chorava e sofria... nada podia fazer. Ninguém me ouvia ou me amparava. Debochavam da minha figura e me chamavam de 'mimozinha fracota'!

Cansei daquilo! Silenciosamente me preparava para escapar daquela droga de "Casa dos pequenos felizes"...

Pouco a pouco, organizei roupas, doces, revistas, talheres e estudava qualquer forma para desaparecer daquele inferno!

E o tempo passava e eles continuavam me judiando de todas as formas possíveis.

Dia onze de maio, grande surpresa! Nosso administrador decidiu comemorar seu aniversário conosco. Nossa, foi uma bela surpresa pra todos, principalmente para mim!

Muitos doces, brinquedos, palhaços, músicas e danças... Eu estava feliz e muito atenta, pois esta seria a chance de desaparecer daquele lugar. Havia muitos carros de doces, artistas, frutas, roupas. Bastava escolher o meu, aquele que me apresentaria a Liberdade e a Paz.

Dia longuíssimo! Continuava brincando, vigiando e enriquecendo minha trouxa de roupas e comidas e, já estava bastante ansiosa para partir dali.

No final do dia - 17:30h (mais um 11 !), todo se despediam, as crianças continuavam bagunçando e comendo, em todos os lugares.

Aquele momento era muito especial para mim... escolhi o veículo, que me levaria para 'a vida nova'. Assim, me escondi perfeitamente entre as toalhas, guardanapos e roupas coloridas.

A caminhonete foi ligada. Olhei para o céu e disse: "Paizão, estou em Suas mãos, tô indo mesmo!!"

Horas e horas de viagem, pois a empresa de festas ficava do lado oposto da cidade. Bom pra mim, pois poderia viver livre, na nova região litorânea...

Onze horas da noite (novo número 11!), caminhava pela primeira vez naquela praia. Estava feliz e assustada e cheia de dúvidas fortes, como o que fazer? Como viver sozinha? Quem me ajudaria?...

O tempo passou e eu vivia na chuva, sentia vários medos, decepções, dores e sustos. Tive pequenos sucessos, muitos amigos e nenhuma família. Meu amadurecimento passava dessa forma: apanhava, brigava, chorava de solidão e crescia forte, tornando-me o que sou hoje: uma bela e inteligente mulher de vinte e dois anos.

Hoje, começo mais um ano, faço aniversário e estou aqui, na praia Bela e a minha casa/cabana já é conhecida e faz sucesso!!

Sou doceira e contadora de histórias. A vida realmente me presenteou com estas novas qualidades: cozinhar doces e contar histórias!

Agora, vendo quitutes e doces diariamente e, antes de fechar meu quiosque; me enfeito com roupas coloridas, faço maquiagem colorida em meu rosto, pego meu tamborim e começo a reunir as pessoas, pois começo a cantar e contar várias histórias - infantis e reais, até a da minha vida! Deste modo, vendo todos os quitudes pela metade do preço, até o último! Foi mais um dia concluído positivamente!

Onze anos e onze dias... Mais um presente de Deus - um bom dia de alegria... Onze de novembro de 1922 - meu aniversário - mais um !

Ah! Meu nome?

Sou a MARIA TEREZA ( percebeu isso?! 11 letras compõem meu nome!)

ONZE - O PERSEGUIDOR!!!

Thera Lobo - fevereiro/2015