A fuga do meu amor platônico da Caverna de Platão

Sim, lá dentro vivia acorrentada a um sonho de amor platônico!

E eu era feliz! Mesmo tendo uma intuição aguçada, queria viver esse sonho de amar um homem que eu somente conhecia através das imagens e movimentos distorcidos, que penetravam na caverna que era o meu mundo,

E eu era feliz! E eu amava com todas as forças do meu coração! Ora de uma criança faminta! Ora de uma adolescente despertando para o primeiro amor! Ora de uma mulher madura, com capacidade de dominar o medo de recomeçar uma nova vida a dois! Ora de uma doente, incapaz, à procura de um apoio, um amparo pra ter uma velhice feliz!

Tudo isso vivi ali dentro! O sonho era o meu amor! Ele me acorrentava ao homem através dos poemas que eu lhe escrevia!

Nossa comunicação era diária, pois espiritualmente estava conectada ao mundo que eu desconhecia!

Só conhecia o que a claridade que adentrava pela fresta da caverna refletia à minha frente.

E como eu amava o meu sonho! Venerava, melhor dizendo!

Um certo dia desatei as correntes! Fugi da caverna! Quis conhecer a realidade que me aguardava lá fora! Deixei tudo! Levei os meus sonhos de criança, da adolescente minha inspiração do primeiro beijo! Da mulher madura, o desejo de vencer, da doente e incapaz o desejo da independência!

Os dias se passaram! Conheci um mundo maravilhoso lá fora! Conheci o homem, lutei, vivi, me descobri!

Descobri também o homem! Não era o homem que eu amava nos sonhos! Apenas um bom homem, que me amparava, que me tratava com respeito, me fazia dar boas gargalhadas, sempre se preocupando comigo, mas eu não amava o homem! Eu sempre amei o sonho! E eu me distanciava do homem! Ele me admirava, mas jamais seria o meu sonho que eu amava!

Tudo valeu a pena! Me descobri não sendo a dependente que imaginava ser! Sou simplesmente uma mulher que ama! Ama um sonho, mas não sou capaz de amar o homem! Nem preciso de gaiolas e correntes.

Estou pronta pra retornar à Caverna de Platão! Mas sei que sei entrar e sei sair! E meu amor platônico? Vou continuar amando!

Entro na caverna de novo! E vou sem medo de ser apedrejada! Pois eu amo meu sonho de amor! Ninguém vai tirar de mim a liberdade de amar!

Vó Didi
Enviado por Vó Didi em 06/03/2015
Código do texto: T5160171
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