HOJE TEM ESPETÁCULO?

HOJE TEM ESPETÁCULO?

Após longo tempo, eis que aparece, em Calambau, um Circo. De manhã, quando acordei, já divisei, da janela do meu quarto, a grande lona que cobria o picadeiro e as arquibancadas.

Logo, o meu pensamento foi remetido aos tempos de criança, quando no Largo da Matriz, hoje Praça Cônego Lopes, assistíamos aos famosos Circos que por aqui passavam. Quando eles chegavam, a meninada já se aproximava, querendo saber de tudo o que iria acontecer. O Tadeu ficou sabendo que um homem seria enterrado vivo. João Coloméia comentava que o palhaço faria aparecer um ovo no bolso de uma pessoa da platéia. E assim por diante.

De repente, aparece o “dono do Circo” e fala para a meninada que às quatro horas o palhaço sairia pelas ruas, e quem o acompanhasse teria entrada de “graça” no espetáculo.

No horário combinado, apareceram uns trinta meninos. Aí, o palhaço surge com um carimbo e vai carimbando o dorso das mãos de cada um, avisando que não lavasse o local, pois o carimbo valeria como ingresso. Depois o palhaço ensaiava com as crianças:-Hoje tem espetáculo? Todos respondiam: Tem sim senhor! Às oito horas dá noite? -È sim senhor!

E o palhaço, o que é? Todos respondiam: - É ladrão de mulher!

O palhaço continuava cantando: - Eu vou ali e volto já... E nós respondíamos: -Eu vou apanhar maracujá...

E assim, depois de vários cânticos e respostas em coro, percorríamos toda a Vila de Calambau.

Voltávamos para casa na expectativa da hora de iniciar o Circo.

- Menino, vem tomar banho! dizia a mãe. O menino respondia: - Não posso mãe, porque a água vai apagar o carimbo da minha mão...

Às oito horas, a orquestra do João de Moura já estava dentro do Circo tocando as marchinhas de carnaval : Papai Adão; Marcha dos carecas; Brotinho; Lata dágua na cabeça, etc.

Os meninos que estavam “carimbados” entravam no circo com um “ar” de muita importância. Outros entravam depois de comprarem os ingressos. Alguns aventureiros entravam por “debaixo do pano”.

É chegado o momento da apresentação. Aparece, primeiro, o Diretor do Circo, muito bem trajado que, com entusiasmo, anuncia: - Respeitável público, boa noite!

Todos respondiam: boa noite!

Então iniciava-se o espetáculo. A expectativa era geral. Vinha primeiro o palhaço com as suas piadinhas, muitas vezes picantes, o que fazia com que, no dia seguinte, o Sô Vigário dissesse, na hora da missa, para os pais não deixarem os filhos menores irem ao espetáculo.

Depois vinham os trapezistas com algumas moças de short fazendo a alegria da rapaziada. A cada intervalo, a orquestra entrava com as marchinhas carnavalescas. Por fim, o tão anunciado drama: “Amor em Segredo”, que fazia as moças chorar...

No interior do circo eram vendidos pirulitos, balas de bico, pipoca e outras guloseimas.

No final, o diretor anunciava a próxima exibição, dizendo que seria reservada uma grande surpresa para o público. Na manhã seguinte, na escola, nos botecos, nas vendas, só se comentava a estréia do circo.

De todos os circos que passaram por aqui, pelo menos no meu tempo de criança, o Circo Irmãos Baeta, mais conhecido como Circo do Baeta, é que fez mais sucesso. Tinha o palhaço Bicanca, com os sapatos de bicos finos que mediam quase meio metro.

Houve um circo, cujo nome não me lembro, que foi armado no Largo da Matriz e apresentou um número no qual uma moça amarrada a uma corda, pelos cabelos, era elevada a uma grande altura, girando em torno do picadeiro. Acontece que a corda soltou, a moça caiu e ficou desfalecida. Foi um alvoroço total. O pessoal do circo socorrendo a moça e a platéia perplexa. Depois de um determinado tempo, a moça se recuperou e o espetáculo continuou.

Esta crônica é um resgate dos momentos felizes que passamos nos circos que visitavam a nossa comunidade.

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Dedico esta crônica ao meu amigo e colega do Grupo Escolar Cel. José Idelfonso e Ginásio Leão XIII de Piranga, José da Conceição Bernardes, o José Bernardes, também conhecido por Piaco.

O Zé é Advogado e Escritor. Por estar ligado à família circense por laços familiares, em um de seus relatos, discorre sobre a sua felicidade ao passar alguns dias junto ao pessoal do Circo Irmãos Baeta, na cidade de Santana dos Montes. Fazia parte deste circo a sua tia Maria, irmã de sua mãe dona Luzia, que também foi integrante do circo antes de casar-se com o Sr.Luiz, pai do José Bernardes. Tornou-se amigo do palhaço Bicanca, compartilhando de suas alegres “palhaçadas”. De acordo com o Zé, esta convivência com o circo ficou marcada como um momento muito feliz de sua infância.

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau /fevereiro/2015

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 11/03/2015
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