Tô de saco cheio!

Descobri que sofro da síndrome do saco cheio! Também descobri que não sou o único. A coisa tomou um vulto tal, se tornou uma epidemia e está assolando o país de ponta a ponta. Por todos os lados, vejo pessoas contaminadas pelo mal, o qual se manifesta através de uma enorme gama de sintomas que vão da total e completa irritabilidade, á apatia generalizada. O nome da coisa é “síndrome do saco cheio”. A gente descobre que foi atacado quando não suporta mais ler os jornais, assistir televisão ou até ouvir o prosaico radinho e se agrava quando aparecem políticos, ministros, administradores públicos e assemelhados sendo entrevistados. Você fica ali parado, quieto e não esboça nenhuma reação, mas a sua irritação vai crescendo exponencialmente. Os fatores desencadeantes são variados, mas alguns tem um potencial desencadeador maior do que outros. Sou muito afetado por entrevistas com Ministros da Fazenda otimistas quanto ao nosso hipotético e maravilhoso futuro da nossa economia, embora as coisas do dia-a-dia contrariem frontalmente o que o sujeito declara. Outra coisa que tem o poder de me tirar do sério, é a divulgação do balanço dos nossos Bancos e Instituições financeiras. Mas não é só isto. É de enjoar qualquer um a facilidade que os nossos brilhantes banqueiros tem de esfolar aos seus correntistas e a nação de modo geral. É claro que para isto, contam com a inestimável ajuda dos poderosos encastelados em Brasília, inclusive para pagar poucos impostos ou não pagar nada. De modo algum podemos assistir a TV Câmara ou a TV Senado. É muito perigoso e a gente corre o risco de enfartar quando qualquer um daqueles sujeitos sobem a tribuna para mais um discurso recheado das tiradas demagógicas de costume. C.P. I. ao vivo? De jeito nenhum! É terminantemente proibido e o seu coração vai agradecer... Outros fatores também são importantes e estão por aí, espalhando a síndrome entre a nossa população. Já tentou se livrar de um telefone celular? Isto vai custar dias e mais dias de interminável espera, sempre acompanhado das irritantes mensagens gravadas e daquelas músicas de repertório de elevador. E quando aquela máquina do banco engole o seu cartão e não devolve mais? E os assaltantes e os inevitáveis flanelinhas? Tem também aquelas sentenças estranhas que os nossos rábulas conseguem obter na justiça, desde que o réu use colarinho branco e que se relacione bem com os poderosos. E aquela avalanche espetacular e incontrolável de impostos, taxas e contribuições que a gente tem que pagar nos primeiros meses do ano? Ficamos em pânico quando o poder público anuncia cortes na saúde, na educação e na segurança pública, mas ao mesmo tempo despeja milhões em obras superfaturadas, perdoa dívidas de usineiros, engaveta processos de contumazes sacanas e eleva salafrários á postos de importância na administração da coisa e dos dinheiros públicos. Andamos pelo Brasil e vamos ser espoliados pelos milhares de pedágios que brotaram por todos os lados com o pleno aval das nossas autoridades. A polícia se esconde e os bandidos atacam e ainda temos que ouvir que não se pode decidir nada no calor do problema, ou seja: acham melhor deixar tudo como está, pois daqui á pouco o povão esquece... Alguns procuram anestesia acompanhando o “ Big Brother” ou assistindo o Faustão. Pra quem gosta, tem as “xaroposas” e intermináveis novelas ou qualquer outra idiotice destas que pululam pelas nossas telas. Outros votam no Maluf, no Collor, querem o Zé Dirceu de volta... ou o FHC de presidente. De qualquer modo, com exceção dos conhecidos sabujos e puxa-sacos de plantão, encastelados em Brasília, a epidemia é nacional e se manifesta insidiosamente. As pessoas cansadas de ver e ouvir todas estas intermináveis mazelas nacionais, adoecem inevitavelmente da síndrome do saco cheio. O meu, por exemplo, está enorme e qualquer dia destes pode explodir....Cheguei á conclusão que a síndrome não tem cura. Por mais que a gente esperneie, grite ou faça discursos pelas esquinas, ninguém ouve e ninguém vê nada. O saco do brasileiro está aumentando sem parar e parece que já está nas cogitações dos nossos sempre criativos políticos, criar sem demora o Ministério do Saco Cheio, cuja função será descobrir novas maneiras de inflar ainda mais os nossos escrotos e administrar o crescimento do dito-cujo, mas de forma sustentada. Como um ministério novo precisa de verbas, com certeza vai surgir mais um imposto: o ISSC (imposto sobre o saco cheio). Quanto mais cheio estiver o seu saco, mais você vai pagar. Como se vê, é um imposto justo, pois é progressivo, ao contrário do Imposto de Renda, que tributa o trabalho mas não a renda. Aí estão os bancos e os banqueiros para comprovar. Com certeza ficarão isentos do nosso Imposto sobre o saco - cheio os nossos Presidentes, deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores, assemelhados e aspones, pois parece que coçar o saco como eles fazem por lá, imuniza contra a síndrome. Para Ministro, serve qualquer um destes “políticos” que pululam por Brasília, pois são todos especialistas em nos encher o saco sem cessar, mas eu aposto no Maluf, cujas credenciais para tanto são impecáveis, mas pode ser até o Lula.... Tanto faz...