172 avenue

Eu queria saber como começar isso. Queria ter uma ideia milagrosa que desencadeasse a montanha de palavras que vou despejar aqui. Uma montanha de palavras que juntas formas apenas um conjunto. Um conjunto de palavras sem sentido. Mas na verdade eu não me importo. Porque você é minha fábula, minha crônica, minha narrativa, minha dissertação. Eu não me importo se no fim teremos uma moral ou não. Não me importo se teremos uma história grande ou pequena. Não me importo de ter que argumentar nossa história, porque a verdade é que não existem argumentos. Não existem explicações lógicas, conceitos idealizados ou argumentos convincentes, é só o amor. Mas nós não sabemos o que é amar. Amamos muito, mas amamos errado, pois ninguém nos ensinou a amar direito. Então cometemos erros, falamos o que não deve, e, naquele dia, eu gritei para ela não voltar. E ela não voltou.

Às vezes ainda passo por lá, pra ver se ainda existe amor. Tenho esperanças de que ele pode ter caído numa poça de água e sobrevivido. Desespero-me quando o vento chacoalha as árvores, pois tenho medo de que leve o amor que restou embora. Então, faço exatamente isso: caminho em outras esquinas, em outras ruas, em outras praças até que encontro o amor. Vejo nosso amor sendo vivido por outras pessoas, que sorriem felizes onde nós deveríamos estar. Suspiro, e faço o caminho inverso, voltando àquela esquina. Sento na calçada e coloco o cigarro entre os lábios para esperar o dia seguinte vir e, talvez, trazer você com ele. E se você não vir, eu me prepararei para procurar novamente, e talvez encontrar num cantinho escondido, tímido e encolhido, o que sobrou do nosso amor.

Milena Hipólito
Enviado por Milena Hipólito em 15/03/2015
Reeditado em 21/05/2015
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