Natal de janeiro a dezembro

Confesso aos estimados leitores que já me encontrava inconformado por não lhes ter enviado nova crônica da viagem que fiz à Alemanha. A ansiedade me incomodou sobremaneira. A visita que empreendi a Fortaleza nesse período foi a responsável pela ausência que hoje chega ao fim. Aqui está amigos, o relato de inesquecível passeio:

Conforme relatei na crônica anterior, o atraso decorrente do erro de localização, ao sairmos de Regensburg para Nuremberg, não abalou nosso ânimo. O GPS, eficiente guia eletrônico, também denominado jocosamente por nós, de Maricota, continuava prestativo e eficiente, levando-nos sem atropelos aonde desejávamos.

Já era noite do dia 7 de novembro de 2014, quando chegamos a Rothenburg, pequena cidade situada na região de Mittelfranken, distrito de Ansbach, no estado da Baviera, antigamente denominado Francônia. Sua população é de 12.000 habitantes, aproximadamente. O lugar está localizado a sessenta e cinco quilômetros de Nuremberg e é banhado pelo rio Tauber, daí, chamar-se Rothenburg ob der Tauber.

Ficamos hospedados por dois dias no Hotel Eisenhut, estabelecido num prédio antiquíssimo, talvez de muitas dezenas ou mesmo centenas de anos. Não saberei precisar a idade do velho casarão, com móveis, quadros, tapetes e esculturas perdidas no tempo. Os nossos aposentos, todavia, foram reformados internamente e ofereciam relativo conforto. As instalações complementares, inclusive móveis antigos, eram de boa qualidade. Os automóveis dos hóspedes ficam estacionados em garagem à parte.

Rothenburg é considerada a mais linda cidade da Rota Romântica. Sua antiga beleza parece única. Em nenhum outro lugar, as memórias culturais da Idade Média foram tão bem preservadas quanto nesse pequeno e interessante rincão que, entre glórias e desafios, preservou-se no tempo para oferecer a humanidade momentos de singular contemplação.

Trata-se de um recanto com grandes atrações turísticas, evocando traços marcantes dos tempos medievais. Conhecê-lo é, pois, uma oportunidade única, considerando a conservação de suas edificações centenárias, praças acolhedoras, torres, fontes e portões milenares. As muralhas daquela época longínqua, ainda intactas, contornam todo o centro antigo.

Caminhar em agradáveis passeios pelas ruas floridas e estreitas de Rothenburg é, deveras, gratificante. Visitar lojas de artesanato expondo variados artigos típicos da Alemanha; sentar-se às mesas de acolhedores cafés com mesinhas expostas nas calçadas revestidas de paralelepípedo; degustar excelente cerveja em ambiente com característica medieval; ou saborear apetitosas iguarias servidas por suas confeitarias são excepcionais momentos que agradam ao turista.

Na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), ocorrida na Europa e deflagrada por países do continente sequiosos de poder, Rothenburg foi subjugada pelo general Johann Tserclaes, conde de Tilly. Conta-se que os habitantes da cidade, talvez para agradar o inimigo, ofereceram ao conquistador um enorme copo de vinho com mais de três litros. O general, que pretendia incendiar a localidade, propôs que se alguém tomasse o conteúdo do recipiente de uma só vez, ele pouparia o lugar da destruição.

O prefeito da cidade, possivelmente um bom bebedor do chamado “néctar dos deuses”, ofereceu-se para executar a ingente façanha, ingerindo de um só fôlego todo o líquido alcóolico.

Para comemorar o heroico acontecimento, anualmente se realiza na cidade a festa denominada Der Meistertrunk, que significa “o gole de mestre”. Turistas do mundo inteiro, inclusive eu, agradecemos a Sua Excelência tão arrojada atitude, sem o que, hoje, não conheceríamos essa joia do território alemão.

Rothenburg também é famosa por realizar animadas festividades natalinas. O ano inteiro é dedicado aos festejos do natalício de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Conforme o título desta narrativa bem o diz, ali, o Natal estende-se de janeiro a dezembro.

Uma visita à loja Käthe Woklfahrt, especializada em produtos natalinos e localizada próximo ao hotel onde estávamos hospedados, encanta o visitante com uma miríade de artigos comemorativos à celebração da natividade do Rei dos reis, Jesus. A tradicional Käthe Wohlfahrt também abriga o Museu do Natal. Minha esposa Matilde e minha cunhada Cristina “fizeram a festa”. Adquiriram tudo a que tinham direito, sem a nossa reprovação como obedientes maridos limitados a pagar a conta, providência que nos acarretou grande susto diante de uma jovem sorridente e pronta a embolsar nossos parcos euros.

Durante dois dias, palmilhamos a pequena cidade, satisfeitos com o que vimos. Percorremos as antigas muralhas e os portões medievais ostentados com elevado zelo conservador. As ruas estreitas e os edifícios centenários foram fotografados à exaustão. As lojas de souvenir receberam a nossa visita para aquisição de recordações destinadas à família e amigos no Brasil.

Estivemos por várias vezes na praça da antiga prefeitura, ou Praça do Mercado, onde apreciamos a exibição dos bonecos que contam a história da Guerra dos Trinta Anos. De hora em hora, eles aparecem em pequenas janelas, sob a contemplação de turistas de variadas nacionalidades.

Agradeço a Deus a oportunidade e os meios concedidos para viajar por tão expressivos lugares. Também me sinto gratificado em compartilhar com o leitor esses agradáveis momentos, agradecido pela atenciosa leitura de meus modestos textos.

Despedimo-nos de Rothenburg com os olhos marejados. A saudade já se fazia sentir em nossos peitos, afetados pelo sentimento melancólico da separação.