MESTRE DOS MAGOS

Mestre dos Magos

Há muito tempo falava-se que, no coração de cada floresta, habitava um ser misterioso e encantador, com a fisionomia de um velho de barba grande e branca, vestindo túnica e um chapéu pontiagudo. Os magos, mágicos ou feiticeiros, pessoas que faziam de tudo para a floresta parecer cada vez mais atraente. Às vezes esses magos eram temidos por tantas outras pessoas, geralmente por quem desconhecia as misteriosas boas intensões e generosidade dos bons e fantásticos velhos. Pois a simplicidade com que eles encaravam a existência, sempre com um ar de criança sorrindo, com quem brinca com a natureza, espantava aqueles que levavam a vida sério demais. Deixa eu lhes contar um segredo: Magos existiram! Houve um deles, nascido em 1933, lá pelas bandas das terras encantadas das Minas Gerais, na cidade de Boa Esperança. Somente um lugar com esse nome para gerar, em seu útero, um mago como este que ali nasceu. Eu particularmente o chamo de O Mestre dos Magos; seus pais o batizaram com outro nome, o de Rubem Alves. Já não está mais entre nós! Mas viveu magicamente muito bem sua existência, velho-criança, um bufão, contador de estórias, um bobo da corte, um mestre na arte do ensinar a pensar brincando, tamanha magia em sua arte oculta, escondida em seu sorriso diante da vida. Por pouco não foi se tornando sério demasiadamente e perdendo sua graça fora da floresta, fora de seu jardim, quando começou a levar tensamente as regras metódicas frias de uma ciência que não busca se encantar pelas asas da poesia. Ainda bem que ele, aos quarenta anos de sua idade gastada até aquele presente momento, se deu conta se seu dom místico, espiritual, quando se encontrou com o poder fascinante da poesia, poder esse que o capacitou a ser um grande pintor. Porém, como todo mago, tudo na sua vida passou a ser diferente; por exemplo, ele como pintor, não pintava com tinta, pincel e tela. Ele pintava a vida com palavras, retratava-as o dia-a-dia de modo prestidigitadamente, tecendo sobre a tela da vida seus quadros feitos com palavras mágicas que davam e ainda dão, vida e cores as flores no jardim, o sol, a lua, o queijo, a faca, e a fome..., o retrato que falava de saudade, do amor que se foi e ainda se faz presente no mundo da lembrança e no espaço sagrado da esperança.

Olha, vejam bem! Eu vos disse que isso é segredo e só poderão contar esse segredo para quem acreditar que lá no fundo do nosso ser, ainda é possível ver a densidão da misteriosa floresta que habita dentro da gente, esperando ser penetrada e descoberta. Olha, esse tal de Rubem Alves ou Mestra dos Magos, soube como ninguém, entrar nessa floresta, como também soube brincar sem medo dela. E o que era floresta tenebrosa, magicamente se transformou em jardim. Eu falo de paraíso mesmo, esse que fica lá pelas bandas do interior de cada um de nós...

Rubem Alves, foi teólogo, filósofo, psicanalista, músico, pedagogo, poeta, escritor, jardineiro nas horas vagas, aliás, sua grande vocação era a de escrever para alma. Eu resumo todos esses ofícios em um apenas, esse velho-criança, foi o nosso Grande Mestre dos Magos!

Até breve, caro Rubão”

Henrique Sacramento
Enviado por Henrique Sacramento em 27/03/2015
Reeditado em 26/07/2015
Código do texto: T5185840
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