GUY DE MAUPASSANT

Arthur Schopenhauer, com a ironia que lhe é peculiar, sentencia em sua Metafísica da Morte: Se se batesse nos túmulos para perguntar aos mortos se querem ressuscitar, eles sacudiriam a cabeça negando.Tal afirmação somente poderia vir de alguém que concebe, com as suas razões bem fundamentadas, que a vida é dor. Não erramos ao afirmar que para o filósofo alemão viver é sinônimo de sofrer, e vice e versa. A vida nada mais é do que uma sucessão de infortúnios, desgostos, desilusões e dores. Uma visão deveras trágica da existência humana, portanto. A infelicidade é perene, enquanto a felicidade é fugaz.

No que concerne a criação literária, a meu ver, alguém quem tão bem expressou tal visão de vida, tal visão trágica da existência humana, foi Guy de Maupassant. Seus contos e romances expõem os infortúnios, os desgostos, as desilusões e as dores de nobres, burgueses, camponeses e infelizes da frança do século XIX de modo irretocável, do ponto de vista artístico e estético. Contudo, é pertinente que se diga, a exposição de tais infortúnios, desgostos, desilusões e dores, não obstante estar relacionada aos franceses do século XIX, não destoam muito daquelas as quais estamos suscetíveis ainda hoje, seja na Rússia, seja no Brasil, na Índia, ou em qualquer outra parte do mundo.

Guy de Maupassant tematiza sobre a loucura, a morte, a doença, a solidão, a mesquinhez, a idiotia, a ganância, sobre as dores dos amores não correspondidos, dos amores frustados, dos adultérios.... Enfim, tematiza sobre aquilo que faz com os mortos de Schopenhauer prefiram a escuridão e a solidão de seus esquifes a ter que voltarem a este mundo. Tematiza sobre aquilo que torna a vida, a existência humana, um evento trágico.

Ninguém eleva-se à uma vida feliz, então, nos contos e romances de Guy de Maupassant? Tal como na existência não fictícia, não, é a resposta. A felicidade não é alcançada pelos personagens, é sim desfrutada fugazmente, pois logo ela tem que dar lugar a outra dor.

É mister dizer que, diante disso, muitos fazem e farão o seguinte questionamento: Por qual razão devo eu ler este tipo de literatura uma vez que desconsidero esta visão de existência humana como existente? A resposta, a meu ver, pode assim ser dada objetivamente: para que possas desconstruir teus idealismos e ilusões concernentes a existência humana.

Rafael Oliveira, Florianópolis 2015.