O QUERER QUE INQUIETA

Crônica

Estar em um constante estado de inquietude é uma das marcas do homem contemporâneo. Valendo-se do vocabulário kantiano, diríamos que a frase o homem contemporâneo é inquieto também seria um bom exemplo de juízo analítico, tal como o são aquele que diz que todo quadrado possui quatro lados e aquele que afirma que todos os corpos são extensos. Falou-se em homem contemporâneo fala-se em intranquilidade, fala-se em intranquilidade falou-se de homem contemporâneo. Constatação inexorável.

Por qual razão, contudo, somos nós, homens do agora, seres inquietos, ou para quem preferir este termo em decorrência do outro, seres intranquilos? Objetivamente, cremos que isso se dá em função de que no mundo contemporâneo nós queremos (desejamos) a todo momento aquilo que não temos e deixamos de querer (desejar) aquilo que já temos. Dito de outro modo, o homem contemporâneo coloca todo o seu querer (desejar) em algo que não lhe pertence e esquece de querer (desejar) aquilo que lhe pertence. Há, portanto, uma primazia do ter para querer (desejar) em relação ao querer (desejar) aquilo que se tem.

Tal primazia, julgamos, nasce e se sustenta no atual sistema econômico no qual organizam-se a quase totalidade dos povos ocidentais e orientais, uma vez que ele exige dos homens um constante desejo (querer) de posse, de conquista. O grande problema, contudo, é que este desejo (querer) de posse, fomentado no atual sistema econômico hegemônico no ocidente e no oriente, nunca é satisfeito. Na medida em que nos achamos de posse de algo outro desejo (querer) de posse surge, e isso se dá ininterruptamente. Escuso dizer que este desejo (querer) de posse vai além, ou melhor, que transcende os desejos (quereres) materiais.

É justamente em decorrência do movimento querer (desejar) – ter – querer (desejar) – ter – querer (desejar)..., que no âmbito no atual sistema econômico não mostra seu fim, que origina-se a inquietude, a intranquilidade do homem contemporâneo. Pelo fato de sempre objetivar e querer (desejar) aquilo que ainda não possuímos é que nos tornamos intranquilos. O homem tranquilo, aquele que vive em estado de quietação, sim, ainda há homens assim em nosso meio, em contrapartida ao homem inquieto, quer (deseja) e valoriza aquilo que já possui. Sua máxima é: devemos querer (desejar) apenas aquilo que temos.

Rafael Oliveira, Florianópolis 2015.