UM MOMENTO MUITO ESPECIAL

Um momento muito especial

Há muitos anos penso em escrever sobre um antigo momento vivido, que com o tempo se tansformou num sentimento de admiração, respeito e satisfação. Sempre achei que não era ainda capaz, que precisava estudar mais, me capacitar, e hoje, não me sinto ainda capaz, mas descobri que por mais que fosse amigo das palavras, elas precisavam serem usadas por mestres para representar graficamente àquele momento. Um amigo meu socorreu-me, na minha aflição, e consolou-me dizendo que qualquer coisa que quizermos dizer, só é fiel relato do momento se as palavras usadas vierem de dentro, direto do coração.

O singular momento se deu quando meu primeiro filho começou a escrever, mesmo ainda sem muita segurança, pela primeira vez, o seu nome. Aquela mãozinha que antes nem segurava o lápis direito, estava escrevendo. Para ele o descortinar de um novo horizonte. Para mim a emoção foi tanta que deixei três lágrimas rolarem por minha face. Num primeiro momento achei, e é, uma obra divina. Num segundo momento, escutando - não chore papai, de meu filho que me olhava assustado - me senti potente, eu estava conseguindo educar meu filho ele teria uma chance a mais que muitos. Num terceiro momento, lembrei-me que por traz de tudo estava um profissional do ensino, o principal responsável e com certeza o executor da obra divina. Eu sempre quiz e quero sempre, e principalmente aqui nesse humilde texto, render minhas homenagens a todos os profissionais do ensino, mais particularmente à nossas professorinhas da pré-escola. Se milhões de vezes, genuflexa, a humanidade lhes saudassem, ainda assim seriam muitas as homenagens lhes devidas. ”Muito obrigado” são palavras que a língua me oferece.São impotente ao fiel relato do sentimento daquele momento. Meu muito obrigado à minha professorinha primária, Dona Maria da Paz, ela atendeu a meu choro, o pedido de socorro das criançinhas, ela não esqueceu de mim, sempre veio em meu socorro e dizia como em profecia: o chorar de uma criança é o seu protesto pedindo ajuda e nesse momento lhe socorra uma mão amiga. Ela não se incomodava com o nosso choro. Fez-me um cidadão, numa época que os pais tinham mais tempo para os seus filhos e sua responsabilidade, enquanto mestra, não era menor.

Passam os tempos. A modernidade invade nossas casas. Os pais e mães assumiram outras funções menos domésticas. E o trabalho do professor em educacar é cada vez maior e também cresceu a sua responsabilidade. Esquecer o choro das crianças, hoje é mais matéria prima à marginalidade e menas ao progresso da domesticidade do ser humano e à sua postura social.

Em nossos dias, mais que nunca, o trabalho do educador é exigido. As crianças que com o seu choro protestavam ontem, um pedido de ajuda, hoje são adolescentes e adultos e suas formas de pedir ajuda assumem outras características. O mestre não deve se incomodar com o seu choro. Os desafetos e as indelicadezas, naturais do despreparo, remetem muitas vezes a posições em choques e quem chora não é entendido e muito menos socorrido por uma mão amiga. A devergência assume as relações. A radicalidade, neste momento, deve ser esquecida e substituida pela busca, palmo à palmo, do interresse comum, a educação. Os chorões, naturamente desliderados, pedem socorro e ajuda à experiência. Que lhes socorram mãos amigas. Que o afeto da professorinha primária seja lembrado e se sobreponha as razões do choro, para que a mão acalentadora prevaleça. Será enaltecida e novamente usaremos o “MUITO OBRIGADO” que não representarão o relato fiel da emoção do momento, mas palavras vindas diretas de dentro do coração.

Manuel Oliveira

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 09/06/2007
Código do texto: T520371