SEXO RADICAL

Sexo segundo o dicionário é o conjunto das características que distinguem os seres vivos, com relação à sua função reprodutora.

Dentro das quatro paredes, - o mais normal - o sexo pode ser desenvolvido e praticado segundo a criatividade e as taras dos sexuados. Tudo é permitido desde que Deus esteja distraído ou cuidando de outras coisas.

Na prática do sexo eu sou tradicionalista e um tanto conservador. Nada de gritinhos que possa atrapalhar o ambiente contíguo. Dou meus uivos, mas sempre sufocado pelo travesseiro.

Naquela madrugada algo estava para acontecer e aconteceu. Acordei aos berros com uma forte e insuportável dor causada por cálculo renal.

Gritava a todo pulmão

- Irene eu não agüento mais... Irene eu não agüento mais.

A Irene apavorada medicou um buscopan composto que com dificuldade eu engoli, pois, seminu estava com uma perna cravada fora da cama e outra por entre os lençóis. Uma mão dava apoio ao meu corpo na cama e outra pregada nas costas exatamente por cima do rim. Ridiculamente eu deveria estar parecendo um maluco em êxtase vendo visões aterradoras.

Eu continuava berrando de dor enquanto a Irene tentava vestir em mim a calça do meu agasalho. Ela tentava erguer o pé que estava fincado no assoalho e eu gritava:

- Eu não agüento mais, me deixe em paz, berrava feito um alucinado.

Enquanto a Irene tentava me vestir a vizinhança acordou e alguém mandou chamar a polícia.

- Que absurdo, em plena madrugada uma sem-vergonhice desta, aonde já se viu – comentavam os vizinhos por imaginarem que eu estivesse praticando um sexo animal e em pleno orgasmo gritando feito um doido.

A cachorrada animada, latindo procurava as cadelas no cio. Os passarinhos acordados, pulando de galho em galho se acasalavam doidamente. Alguns vizinhos, com auscultador na parede se motivavam para um trepadinha que há tempo não faziam. Foi um sururu danado naquela doida madrugada.

Eu continuava aos berros quando a polícia chegou.

Abrindo violentamente a porta do quarto e me vendo naquele estado crítico a policia recuou rapidamente imaginando que ainda não tinha terminado o meu orgasmo.

Como eu continuava gritando colocando o bairro todo em polvorosa a polícia resolveu agir jogando um balde de água fria por cima de mim para tentar aquietar o meu afogueamento sexual. Usou em mim a mesma tática utilizada para o desengate da cachorrada.

A coisa só piorou.

A noite estava fria e com isto além da dor eu estava agora morrendo de frio.

Como a Irene não conseguiu colocar as minhas calças a polícia resolveu intervir. Desceu uma cacetada na minha cabeça e saiu comigo arrastando até ao camburão.

Eu continuava aos berros.

Na delegacia, a Irene tentava por todos os meios explicar para o delegado que aquilo não era resultado de sexo e sim de uma maldita pedra no rim.

O delegado não quis acreditar e mandou chamar o corpo clínico para os exames de rotina.

Depois de muitas horas de berros e de espera chega um babaca vestido de branco que as apalpadelas no meu cacete diagnosticou realmente que só poderia ser a pedra no rim. O delegado e os policiais ficaram decepcionados com o resultado, pois imaginavam estar à frente de um caso inédito de sexo radical com um prolongado e gostoso orgasmo.

Na enfermaria da própria delegacia fui medicado voltando no dia seguinte para casa.

Quando cheguei fui recepcionado por muitos casais com cartazes aonde se lia:

“Você é o cara!” “Mostra pra nós o teu segredo”

Virei lenda nas cercanias.

A vizinha que chamou a polícia foi execrada e expulsa do condomínio.

A Irene por força das circunstâncias transformou-se em consultora sexual a fim de explicar como é que ela conseguiu aquela proeza tão animal, tão radical.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 11/04/2015
Código do texto: T5203790
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