Pão Com Mortadela ou Canapé Com Caviar?

Pão Com Mortadela ou Canapé Com Caviar?

Jorge Linhaça

“Você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi eu só ouço falar!”

Como todo cidadão comum, eu sempre tive a curiosidade de saber o gosto do tal caviar assim como o do tal champanhe francês. Pois bem, por um desses acasos da vida, acabei sendo contemplado com a degustação desses dois ícones da gastronomia da ostentação.

Pode ser que eu não tenha um paladar tão apurado ou talvez o glamour que envolve a ambos me fizesse imaginar uma experiência magnífica, como um despertar espiritual. Seja qual for o motivo, achei ambos absolutamente sem graça.

Alguns que realmente gostam dessas iguarias podem achar minha colocação um afronte ou “coisa de comunista” (Hoje, neste país, qualquer um que discorde do senso comum é automaticamente considerado comunista), fato é quel, entre caviar e champanhe ou um belo sanduba de mortadela do mercadão de São Paulo ( ou mesmo caseiro) com guaraná, prefiro me lambuzar do segundo.

Outros que “comeram mas não gostaram”, assim como eu, hão de jurar de pés juntos, pelo resto de suas vidas, que foi a melhor experiência que já tiveram, apenas para dar a falsa impressão de refinamento que os faça ser invejados por alguns e aceitos por outros.

Na nossa sociedade atual, existe esse desejo onírico e latente de “ser ( ou parecer ser) melhor” do que o vizinho. Nossa TV tem de ser maior, nosso celular mais moderno e etc.

Já não importa a nossa satisfação pessoal, o importante é não parecer menos do que ninguém. Tem gente que adora sanduba de mortadela, mas, quando esta com outros, pede o que eles pedem pra não parecer “pobre”.

Vejo jovens comemorando sua “formatura” em sistemas de ensino que impedem a todo custo a reprovação. Enganam a si mesmos, achando-se muito espertos, mas, não lhes peçam para fazer uma redação de 20 linhas... É bem capaz de lhe acusarem de tortura psicológica ou coisa parecida.

Enfim, prefiro comer meu sanduba de mortadela, que me dá prazer e enche a barriga, do que fingir felicidade e satisfação com o que não me acrescenta em nada.

Só para fazer um contraponto: Recentemente, Chiquinho Scarpa, um dos mais ricos deste país, chorou de emoção ao comer, pela primeira vez na vida, o sanduba de mortadela do mercadão. Duvido que tenha chorado ao comer caviar.

Talvez seja hora de revermos nossos conceitos.