Sem razão e explicação

Quando perdi minha mãe, e em busca de respostas para sua morte prematura, procurei nas religiões todas, uma resposta que aquietasse meu coração de filha inconformada com tamanha perda.

Fui educada no catolicismo, mas não encontrei justificativa suficiente para aquietar-me.

Comecei então a ler e estudar sobre a morte.

Cheguei à conclusão que ela é uma passagem apenas. Minha mãe em sonhos chegou a me confirmar tudo.

Não pratiquei religião alguma. Tentei o tempo todo cuidar para ser o melhor ser humano possível.

Agora, de forma abrupta e completamente inesperada perco minha filha aos 34 anos, na flor da idade.

Era uma menina brilhante, coração bom, ajudava a todos e partiu fazendo isso: trabalhando em comunidades colombolas, numa comunidade de um lixão e de pescadores.

Ela se foi.

Parou seu coraçãozinho amado

Segundo os médicos não sofreu, teve morte súbita.

Éramos amigas, companheiras, minha única filha.

Entendíamo-nos apenas com um olhar.

Tínhamos uma sintonia linda. Adivinhávamos uma à outra.

De repente, ela partiu.

Ouço de tudo: ela era um anjo, não merecia ficar nesse lugar mais, Jesus precisou dela lá em cima, chegou sua hora....

Coloco novamente à prova todos os ensinamentos e leituras de 35 anos.

Choro inconsolavelmente a perda da minha filha.

A vida perde o sentido e a razão de ser.

Éramos apenas nós duas.

Ouço que não devo revoltar-me por que não seria bom a mim nem a ela.

Escuto palavras de pessoas queridas que não posso me deixar abater. Tenho que prosseguir, afinal, minha missão ainda não terminou.

Missão?

Olho para as flores, para o céu: nada me consola.

Ela se foi.

Perdi o amor da minha vida: minha companheirinha, sua alegria, seus cuidados, seu carinho.

Ela se foi

Eu fiquei.

Com o coração descompassado choro quase o dia todo.

Nada me consola.

Ela se foi.

Sem razão e explicação.