A MADEIRA QUE VIROU PEDRA

A MADEIRA QUE VIROU PEDRA

Alcides não tinha religião e gostava de desafiar aqueles que acreditavam em Deus. Morava ali pelos lados da Adriana, zona rural de Calambau .

Trabalhando na roça, junto a outros lavradores, quando armava uma chuva com muitos trovões, ninguém ficava próximo dele, pois temia-se que um raio pudesse atingi-lo e, de sobra, ainda atingisse quem estivesse por perto.

O pessoal comentava que o Alcides criticava os que não comiam carne na sexta-feira da Paixão, e os que se confessavam e comungavam preparando-se para a Páscoa fazendo, como diziam, a desobriga.

Numa Semana Santa da década de 40, na sexta-feira santa, os vizinhos viram o Alcides sair de casa, de manhã, com algumas ferramentas para consertar uma porteira na estrada que liga Calambau a Porto Firme, passando pelo povoado de Adriana.

- Oi Alcides, o que você vai fazer? perguntou-lhe um vizinho.

- Vou consertar uma porteira! respondeu o Alcides.

- Mas, logo hoje que é um dia respeitado por todos, e ninguém trabalha? ponderou o vizinho.

- Para mim não interessa se é dia santo ou não, eu trabalho no dia que eu quero, disse o Alcides.

Algumas horas depois, eis que aparece o Alcides, sem as ferramentas, muito assustado e com uma das mãos seca, isto é, endurecida e sem poder movimentar os dedos. E o pior, ainda estava mudo.

Em seguida, veio a notícia: no local da porteira estavam espalhados pelo chão, o machado e as demais ferramentas, e, ao lado delas, o esteio da porteira transformado em pedra, com as marcas do corte do machado.

Segundo o pessoal mais antigo, o Alcides depois de pouco tempo veio a falecer. A madeira transformada em pedra ficou por muito tempo à beira da estrada. Muitas pessoas disseram tê-la visto , que o seu formato era de um esteio de porteira e que era de uma pedra que se parecia com madeira queimada.

Verdade ou ficção, este fato foi muito comentado e transformou-se em mais uma lenda, dentre outras tantas contadas na nossa região.

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Murilo Vidigal Carneiro – Calambau, abril de 2015

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Enviado por murilo de calambau em 16/04/2015
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