Vermelho

Meio sem rumo e pensativa, saí de um ensaio na Júlio Prestes e fui até à Luz, onde procurava um Santander pelas redondezas.

Contornei o Parque da Luz, encontrei o banco, verifiquei minha conta tão vermelha quanto as cores do mesmo e segui vagarosamente em direção ao parque que, pasmem, eu só havia visitado uma única vez em toda a minha vida. E foi a trabalho, gravação de alguma coisa, não lembro.

Dei uma volta no parque todo e acabei saindo pelo mesmo portão por onde entrei, no qual havia um senhor vendendo sorvetes, sentado em um banquinho de plástico todo remendado com fita adesiva marrom, daquelas de embalar mudanças dentro de infinitas caixas de papelão...

No momento em que passei, ouvi um estalo vindo do banquinho do sorveteiro que, imediatamente se levantou sem deixar de anunciar:

-Sovête, sovêêête, ó o sovêêête...

E eu ri. Não sei se foi do banquinho mil vezes remendado ter se arrebentado inteiro, do sorveteiro vermelho de vergonha tentando disfarçar que seu banco havia quebrado, ou do fato de eu estar mais quebrada que o banco, ironicamente em frente ao banco vermelho em frente ao Parque da Luz...

E.Thrash - 2015-04-08

Elaine Thrash
Enviado por Elaine Thrash em 17/04/2015
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