CONVERSA COM SÃO FRANCISCO - 2

Esta noite decidi ter uma nova conversa com o meu São Francisco. Ando desconfiada de que Ele, lá do alto de sua cantoneira está convencido pelo sucesso de sua ‘ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO”. espalhada em devoção universal pelos milhares e milhares de devotos do mundo inteiro. Já não se importa muito comigo e fica lá de cima , com os olhos fixos no além, sem prestar-me atenção. Algum de nós dois tem de quebrar o gelo e propus-me a liberar meu mutismo, provocando-o:

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- Ô São Francisco, o que está acontecendo conosco? Antes falávamo-nos sempre e agora você fica aí calado, com esse ar de beatitude de quem está fora do mundo, sonhando com o céu e esquecido de nós, pobres mortais. Ando tão precisada de sua ajuda, meu amigo....

Ele olhou-me demoradamente, nada falou, mas sentou-se à beira do seu nicho disposto a ouvir-me.

-É o DIVINO, São Francisco, aquele garotinho frágil, pálido e triste lá do hospital onde está internada minha tia-avó a quem tenho feito companhia.

Pois bem, ele tem câncer no fígado e os médicos declararam que seu caso é fatal.

Resolvi brincar com todos os pequerruchos internados enquanto alojados no corredor para limpeza da enfermaria onde estão e fiquei mais triste ainda. Levei-lhes os biscoitos do quarto da minha tia que nem os come, e com licença da Irmã Enfermeira, comecei a reparti-los entre os menininhos, mas o DIVINO apenas segurou seu biscoito, com a carinha mais triste e não comeu, sequer fez qualquer gesto ou expressão de alegria, conforme as outras crianças que devoravam com sofreguidão seus biscoitos.

A Tereza que nem andava ainda, veio se arrastando em disparada e, de um golpe, tomou o biscoito da mão do DIVINO. Ele não reagiu e continuou com aquela carinha triste..

Dentre todas as crianças em tratamento, apenas a Tereza era uma menina forte, alegre, mulata gordinha e levada. Nascera no hospital e a mãe desaparecera, deixando-a, e agora as Irmãs a criavam.

Decidi brincar de rolar uma bola até onde estavam as crianças que se alvoroçavam para pegá-la, apenas o DIVINO não se mexia. Ai, meus Deus o que fazer? Não suporto ver a carinha tão triste daquele menininho condenado...

- Vê agora, São Francisco, porque estou agora te recorrendo? Não gostaria que o DIVINO morresse, ele é tão novinho ainda, merece tanto viver!...

Ele ficou atento, sério e pausadamente e foi falando condoído:

- Não depende de mim preservar a vida, filha, posso apenas ajudar quando está ao meu alcance, a vida é dom de Deus e só Ele pode prolongar ou tirar. Gostaria muito de atender teu pedido, mas pedes-me algo que não posso fazer. Fico triste também... Invoca-me através de minha “ORAÇÃO” e teu pupilo não irá sofrer, posso te garantir...

Poucos dias depois soube que meu anjinho voou para o céu, sem dor nem sofrimento... (Obrigada, meu São Francisco).

Linandre
Enviado por Linandre em 10/06/2007
Código do texto: T521185