O síndico carioca

O SÍNDICO

Um dia, seu Avengard viu uma mudança chegando para o apartamento ao lado que ficou fechado por cinco anos. Curioso foi verificar de perto.

-Sou seu vizinho. – Avengard estende a mão para uma mulher de meia idade bem enxuta.

- Nora. – respode a mulher fazendo uma avaliação por trás dos óculos escuros.

- Moro aqui há tantos anos e esse apartamento sempre fechado. – comenta para tentar obter mais informações sobre a moradora..

- Fiquei viúva e decidi morar nesse imóvel aqui no Rio de Janeiro.

- Morava aonde?

- Em Goiânia.

-Prazer vizinha, se precisar de alguma coisa é só pedir. – fala Avengard aguçando seu lado galinha.

- Obrigada.

Marina é esposa de Avengard, filha de militar e funcionária pública federal. Ciumenta, daquelas que não dá nenhuma trégua. Já Avengard está sempre tentando ser um grande empresário, mas fracassou em todas as tentativas. Ele acha que emprego nenhum está à sua altura.

- Por que não se candidata a síndico? – pergunta Marina cansada de bancar suas idéias estapafúrdias.

Tudo começou a mudar com a presença de Nora. Devido o apartamento dela estar fechado tanto tempo, ao usa-lo foram surgindo problemas e Avengard, sempre solícito como vizinho e síndico estava ali presente a qualquer pedido de ajuda. Mesmo Marina no controle, Avengard e Nora encontraram uma forma de serem amantes.

- Trouxe um bolo de aipim da esquina pra tomarmos café. – ele a mimava aproveitando o fato de serem vizinhos porta com porta.

O tempo passou. Um dia, Marina chega mais cedo em casa e Avengard não está. O homem, ao ouvi-la chamando sai nu de dentro da casa de Nora e entra no elevador social para evitar flagrante. Marina bate na porta de sua vizinha.

- Não quero incomodá-la no seu banho Nora, mas tem um comprimido pra dor de cabeça, estou latejando. Avengard não está em casa, senão ia mandá-lo à farmácia. – fala para Nora enrolada numa toalha.

- Dor de cabeça? Tenho esse remédio aqui. – estende um comprimido.

- Obrigada, vejo que está tremendo.

Se despedem e Nora fecha a porta assustadíssima.

No elevador, Avengard ligou a emergência, ao tentar sair não consegue, o elevador travou a porta. Se apertasse o alarme o porteiro acionaria o elevador lá de baixo. Tentou tudo, mas nada funcionou.

-Nora. Nora. – chama baixinho achando que a amante está do outro lado da porta de aço. Nisso ouve o porteiro que havia constatado o bloqueio da porta.

-Tenho de chamar a firma. – fala antes de tocar na casa de Marina que atende com cara de dor.

- Cadê seu Avengard?

- Não sei e pare de fazer barulho que estou com enxaqueca. - ela o repreende vendo a força que o porteiro faz para tentar abrir a porta – assim vai quebrar a porta e o conserto sairá do seu salário.

Nora por sua vez, cheia de medo, resolveu ir ao cinema. Horas mais tarde, Avengard já gritava desesperado no elevador, Marina dormia feito pedra depois de um calmante e Nora fazia compras no shopping. Bem mais tarde chega a assistência técnica e alguns moradores que gostavam de bisbilhotar, para ver o que estava acontecendo. Afinal não é todo dia que o síndico fica preso no elevador, ainda mais depois de aumentar o condomínio.

- Ainda bem que foi ele quem ficou preso, vai sentir na pele o desespero que passamos quando o elevador enguiça.

O disse-me-disse correu solto, quando a porta finalmente é aberta, Avengard nu, numa poça de xixi, olha pra todo mundo e diz:

- Esse elevador não oferece nenhuma segurança, vou fazer cota extra pra trocar essa porcaria.