Glululu

Estávamos, eu e minha mulher, sozinhos em casa, assistindo tevê, e resolvemos procurar algum filme que interessasse a ambos. Clicando de canal em canal, acabamos parando em um filme policial recém começado que nos pareceu do tipo bem feito, inteligente, daqueles que prendem a atenção pra valer.

E prendeu mesmo. O personagem central era um serial killer desesperado, dos que passam quase que o tempo todo do filme matando e despistando a polícia.

Alguns minutos depois ouvimos um som que nos pareceu ser um “glululu” e o assassino matou sua primeira vítima.

Mais alguns minutos, outro ‘glululu” e lá se foi a segunda vítima para o beleléu.

Uma mocinha linda parecia que ia escapar incólume, mas ouvimos o “glululu” e lá se foi ela.

- Você reparou, amor? Cada vez que a gente ouve esse barulhinho, que parece um “glululu” morre um coitado no filme.

- Americano não tem mais o que inventar...Agora tem até assassinatos em série com aviso sonoro. Vê se pode...

“Glululu” daqui, “glululu” dali, e o homem só matando, matando, matando e despistando.

De repente deu um “glululu” exatamente na hora em que apareceu um certo policial, e eu e minha esposa deduzimos, no ato, que aquele sim, aquele policial esclareceria os crimes sem dúvida alguma.

Não deu outra. Devidamente “glugulizado”, o policial descobriu uma pista, seguiu-a, chegou ao assassino, e o prendeu-o ao no mesmo instante em que ouvimos um som já conhecido nosso: glululu.

O filme chegou ao fim, nós dois sentimos sono, resolvemos desligar a tevê e cair na cama.

Quando apertei o botão de desligar ouvi, ainda mais claramente, um assustador “glululu”.

- Mas o filme não acabou?

- Acabou, amor. Tenho certeza.

- Mas eu ouvi mais um glululu...

Até hoje a gente ainda ri muito quando se lembra de naquele momento ter descoberto a fonte dos glululus: era o celular de meu filho, ao lado da tevê, pedindo recarga com insistência.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 11/06/2007
Código do texto: T522665
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