Acidente

Já não sei mais onde estou, as imagens se confundem com os sons, é delirante. A musica torna a noite sem estrelas mais sozinha, e meus pensamentos dilaceram meu coração.

Passo a marcha mais uma vez, não me importa matar uma família em um acidente hoje. Faço o retorno e entro na praia, abaixo os vidros e sinto e brisa bagunçar meus cabelos.

Grito alto, grito seu nome. Junto com o termino da música, meu coração já não bate mais tão forte.

As coisas desaceleram, menos o carro que continua correndo descontrolado pela avenida. Meu corpo amolece, minha cabeça me parece mais pesada. Voltei para a Avenida das Américas sem nem perceber, estou voltando de onde vim. Não presto atenção nos sinais, não consigo vê-los. Sinto a música pulsando pelas minhas veias, o piano tornou-se meu coração, assim como a triste letra é a minha alma.

Não quero parar, mas não quero mais fugir. Fugir de você, de mim e do mundo. Talvez, talvez amanhã eu nem te ame mais, talvez eu vá acordar daqui a cinco minutos e ver que isso foi um sonho.

Talvez você ainda volte para mim. Ou até quem sabe, você pare de mentir. Não importa. Não quero mais saber. Quero você, como sempre quis.

Cada célula no meu corpo grita o seu nome, e eu não agüento mais isso.

Não te desejo felicidades, não quero que você seja feliz, não sem mim.

Não vê como sou miserável sem você?

Como não te ter ao meu lado agora faz falta?

Merda, não me importa mais fuder tudo agora. Não quero te culpar pelos meus atos, mas a culpa é sua.

Você me fez assim lembra? Me moldou com cada palavra e gesto seu, me fez me odiar por não te odiar. Me fudeu, fudeu com a minha cabeça e me jogou no lixo.

Queria poder fazer o mesmo com você. Mas foda-se, você não se importaria, certo? Quem sabe todos os erros não tenham sido meus?

E se eu te dissesse que te amava logo de uma vez, adiantaria de alguma coisa? E se eu te desse alguma razão em especial alem de sexo para continuar comigo? E se você percebesse o brilho em meus olhos ao te ver, teria adiantado? Não, eu sei que não. A noite clareia no céu, mas ainda não está amanhecendo. Avanço mais um sinal, sem me preocupar com quem posso encontrar no cruzamento. Não tenho tempo para ver que com o que me batem, eu já estava morta de qualquer jeito.

Fecho os meus olhos vagarosamente, e repito que te amo baixinho. Antes que os vidros estourassem e o carro capotasse, penso em você uma ultima vez.

Eu sou a escória da sociedade, e assim a minha vida acaba como a de qualquer um que se lança a noite.