007 I love - Deérre

Quando é que discutir se torna ao invés de um apêndice indesejado, uma parte integrante da oração dos amantes?

A famosa D.R. só funciona para que você possa se sentir melhor com seus próprios defeitos já que os do outro são TÃO horríveis e mais nada. Jogar os defeitos do outro no ventilador não vai te fazer feliz.

A primeira vez que rompemos foi assim mesmo, compramos um grande ventilador. Um daqueles que levantariam qualquer telhadinho humilde de sentimentos recém adquiridos e ligamos no ‘ultimo” , bem na cara um do outro e despejamos nossas verdades.

Quando acabou a discussão não restava mais nada em volta de nossas intenções de ter um ao outro em algum momento.

Nunca pensei que duas pessoas tivessem tal poder destrutivo dentro de si. Ele foi embora da cidade. Vendeu os bens e foi viajar e trabalhar com algo completamente diverso daquilo que sempre fez na vida. Eu, bem, eu chorei apenas. Era só o que conseguia fazer.

Depois de alguns meses eu o desbloqueei e perguntei se estava bem e ele imediatamente respondeu, que sim.

Não havia uma forma possível de curar o que sentia sem falar com ele. Precisava que aquilo tudo fosse esquecido.

Não, necessitava na verdade que voltando a manter uma relação de amizade com ele, tudo o que passou se tornasse apenas uma lembrança ruim, lá distante do presente.

O presente onde outras coisas, até coisas muito boas estariam acontecendo e me fazendo ter pouco a pouco tantas lembranças dele que aquela se tornaria pequena, pequenina ao ponto de não mais machucar as retinas.

Seguiu a vida. Fomos nos falando aos poucos.

Eu sempre mantive a postura de que tudo havia passado e de repente em algum momento que nem sei precisar quando, passou mesmo! Eu havia exorcizado o monstro da lembrança afinal, enfim, amém, axé!

Tudo isso aconteceu a distância, não esqueçam que ele fora embora daqui, mas, ele voltou e ai quando chegou o momento de vê-lo pessoalmente juro que algo dançou na cara da minha pobre convicção. Quem sabe a infeliz recordação ou, admitindo agora, o amor.

Criei um mecanismo de fuga, construí uma amizade entre nós dois, coloquei fé nesta amizade, cri nela. O tempo passou e fez parecer que ela existia e me (nos) acalmou o coração. Então e só ai pude enxergar o óbvio. Claro, ainda o amava!

Tania Gauto

24-04-2015