A Esmeralda do Atlântico. Preciosa, porém, inoperante
 

Da janelinha se vê no horizonte o panorama de baías verde-esmeralda, praias extasiantes e belas falésias. Um ponto isolado no meio do oceano, conhecido como a Esmeralda do Atlântico. Um destino que além de fascinante é basal para emergências nos voos entre a América do Sul e a Europa.

Falamos da Ilha de Fernando de Noronha, cujo aeródromo no meio da paisagem lá embaixo, distante do Recife 500 Km, e bem sob a rota aérea entre aqueles dois continentes, não possui condições normais de atividade.

Tudo expõe o descalabro com a coisa pública e com o direito à vida no Brasil. Não sei a razão, mas no nosso país é assim mesmo, dizem.


Tão importante quanto Noronha para a mesma rota é a Ilha do Sal, no arquipélago de Cabo Verde, pois fica num dos pontos onde a travessia do Atlântico é mais curta, a 3.050 km do Recife, cujo aeródromo tem capacidade para qualquer tipo de avião sem restrições de peso, bem diferente do alçapão noronhense.

O aeródromo de Noronha, um ente medieval, é diferente, por exemplo, no tocante a especial atenção dada pelo Chile - meu país modelo no meio do lixo sul-americano – ao da Ilha de Páscoa. Devido a sua importância como ponto nas rotas do Pacífico Sul, embora seja o mais remoto do mundo em relação aos demais, localizado a 2.603 km do da Polinésia Francesa, seu coirmão mais próximo, e a 3.700 Km da capital chilena, o aeroporto lá é de nível internacional.

Em Noronha, a única pista de pouso possui desagregação asfáltica no piso e desníveis acentuados em alguns pontos. Todas as facilidades e serviço de iluminação da área de pouso estão indisponíveis, pois inexistem luzes de aproximação e luzes de área de pouso. O farol de aeródromo também não existe. O pátio, a pista de táxi e o terminal estão em situação deplorável. As operações estão restritas a aeronaves de envergadura não compatíveis com voos internacionais.

A operação push back, aquela que o trator empurra a aeronave para fora do pátio, por segurança, está proibida, obrigando deslocamento do avião em rota de solo para a frente, desde a posição “BRAVO” girando 180º no parking, operando com restrições até a interseção de taxiway “ALFA”. Um tremendo atraso em se tratando de aviação.


Diga-se de passagem, os serviços de combustível, gasolina de aviação e querosene, não estão disponíveis. Ressalte-se, também, que o auxílio à navegação e ao pouso, constantemente ficam inoperantes.

Alguns procedimentos de descida e subida estão impraticáveis quando as condições meteorológicas sofrem mínimas modificações em relação ao teto e a visibilidade. Assim, mesmo com chuva moderada, não há operações, pois se torna impossível a aproximação e decolagem com precisão.

O pouso por instrumento não é permitido, pois, a rampa padrão de descida encontra pela frente a falésia da Praia do Sancho, uma grave violação de obstáculo natural à superfície de seguimento visual (o morro está mais alto do que o limite vertical inferior instituído na carta de altitude mínima para se chegar até a pista de pouso).

Na decolagem, a bronca não é diferente, a aeronave deixa o solo e imediatamente passa no meio de dois morros antes de chegar ao espaço aéreo sobre o oceano.
Em ambos os casos, necessárias correções são, na prática, impossíveis de serem procedidas pelo operador da aeronave.

Lá, como pássaros infantes que ainda não receberam todas as lições de voo, os aviões voam bem, mas pousam desengonçados e decolam pior ainda.


Mesmo superados esses problemas, a mais moderada das chuvas, torna a pista escorregadia, com grande incidência de derrapagem. Dizem que a fresagem do pavimento, obra que aumenta o coeficiente de atrito, desde a última vez que foi colocado revestimento asfáltico sobre a pista, nunca foi realizada. Aí as companhias aéreas restringem o pouso e a decolagem, por questões óbvias de segurança.

Os ilhéus e os turistas que fiquem no vácuo! Tudo isso é inaceitável, mesmo para o Padrão Brasil.


Aliás, além da posição geográfica vital para a rota aérea intercontinental, Fernando de Noronha foi há pouco eleita a “Melhor Ilha da América do Sul e a 10ª Melhor do Mundo” pelo site de viagens TripAdvisor. A ilha, pela beleza natural da Praia do Sancho, também foi distinguida com o prêmio “A Praia Mais Bonita do Mundo” em 2014 e 2015.

Mas, parece que isso tudo fica só no papel ou na foto tirada da jenelinha do avião. Na realidade, pergunta-se:

Dá para crer que a preciosa Esmeralda do Atlântico possui aeroporto inoperante? Com a palavra as autoridades (in)competentes.
MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 05/05/2015
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