Uns Braços - Versão Moderna

De dentro do meu carro, enquanto seguia para o trabalho, reparei no veículo que se ia a frente: carro novo, todo equipado, design fino e moderno, desses de pôr inveja em qualquer um que o ver atravessar a avenida. Sentado em meu Gol 2002, extremamente básico e cheio de problemas a serem consertados, foi o que senti.

Reparava tanto na super máquina adiante, que acabei reparando no baixar repentino de um dos vidros da porta traseira. Um braço delicado e lindo passou por ele. Um braço coberto de uma pele clara e lisa, que mesmo a distância pude sentir sua maciez e ternura. O vidro fumê do porta malas me impedia de ver de quem era aquele braço, mas sabia que vestia um vestido azul púrpura, desses de festa de gala, bem chique, era o que as mangas rendadas que cobria aquele braço até logo acima do cotovelo me fazia imaginar.

Percorri lentamente os olhos ao longo daquele braço e tive a convicção de que ele pertencia a uma mulher jovem da alta classe, isso pelas pulseiras douradas e cheia de pedras preciosas que nunca poderiam ser falsas e que pendiam próximas de sua mão. Aquela mão era o prêmio maior daquele braço, tão linda, tão macia, tão delicada quanto. Os dedos firmes e longos traziam sem si dois anéis brilhantes e juntos seguravam uma latinha qualquer de refrigerante.

Deixei minha imaginação fluir e pensei em quem seria que dirigia aquele belíssimo carro, que tipo de relações poderia ter com a dona daquele braço, e para onde iriam, ou de onde viriam, daquela maneira. Todos pensamentos ainda viviam em mim quando foram interrompidos pelo tinido da latinha de refrigerante quicando no asfalto. Olhei para a lata, olhei para o carro, olhei para o vidro sendo erguido. Lembrei-me dos dedos, dos anéis, das pulseiras, das rendas... Lembrei-me daquele braço e quis saber naquele instante, mas do que nunca, de quem seria tão mal-educado braço.