Pessimista não, catastrofista

Por ver a mim mesmo como uma espécie de Dom Quixote vestido de jeans e all star, um medievalista na geração do pós modernos, e ciente que gente assim não é muito bem quista pela profunda necessidade de idealismo pra se manter são – ou louco – preciso, vez por outra, me justificar publicamente pra sobreviver no mundo dos relativistas, antes de alguém relativizar meus defeitos e ensiná-los como se fosse um jugo de rabino.

Deste vez gostaria de afirmar minha posição sacrílega de catastrofista. Não sou um pessimista, que é aquele tipo de gente que acha que tudo sempre vai dar errado ou que tudo ja está errado demais pra dar certo. Sou mesmo um experiente e talvez imutável catastrofista.

Acho que herdei da minha mãe a capacidade de ouvir estalinho de criança em festa junina e não deixar ninguém sair de casa afirmando que é tiro na rua. Levo o casaco na mochila em pleno verão escaldante do Rio porque pode pintar frente fria, e afinal das contas a previsão do tempo não é e, catastroficamente, nunca será confiável.

Sempre acho que se minha filha caiu e eu só ouvi o choro alto é porque foi de cabeça e na quina. Acho, na minha viagem maionésica, que os “iluminates” podem não somente estar controlando o mundo, mas também que minha esposa e filha fazem parte desta mítica organização e estão espalhando vários símbolos ocultos pela casa (alguns desenhos da minha filha são no mínimo “reflexivos”).

Insisto sempre que as marés de todas as praias de todos os lugares estão subindo muito rapidamente segundo os índices mais imprecisos e suficientemente catastróficos pra mim, e incentivo a venda urgente de todas as propriedades costeiras para uma compra oportuna perto de onde moro, a quilômetros do mar (e de padarias, gente, lojas…).

Se encontro um número perdido de ligação não atendida no celular tenho a mais profunda certeza de que ou meus pais morreram inesperadamente ou perdi uma grande oportunidade de emprego daquele currículo que coloquei e a moça do RH ficou de dar a resposta há séculos.

Entenda, não e fácil ser catastrófico, portanto procuro me manter afastado de gente exagerada (nível anterior ao catastrofismo) e de programas de TV como os apresentados pelo Datena, que estimulam gente como eu a aumentar quase tudo, desde um recado pra alguém até a estreia de um filme que depois de você ver vai perceber que nem era tão bom assim como eu te disse.

Não sou pessimista, de forma alguma. Sou digamos… Alguém que escreve a vida com sinal de exclamação no final de todas as frases (!!!).

Obs.: prevejo uma última catástrofe quando minha esposa ver que fiz um comentário jocoso sobre ela no blog.

Por André Alves Castro

TEXTO PUBLICADO NO SITE COTIDIANIDADE

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Cotidianidade
Enviado por Cotidianidade em 07/05/2015
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