CREPE DE CHOCOLATE

Sabe aquela hora em que você para, que você dá uma leve refletida e desliga o automático? Aquele momento em que você desau tomatizando-se muda a rota e sai da mesmice? Foi o que aconteceu com Maria Clara naquela tarde de outono em que ela esgotada e com fome estacionou seu carro frente a uma lotérica. A leve reflexão despertou nela o desejo de mudar, de experimentar alguma coisa além dos fritos da lojinha à frente.

Nesse momento, ela observa que estacionou bem próximo à estação do metrô, melhor dizendo bem próximo à passarela de acesso ao terminal.

Num golpe de ousadia aproximou-se da pequena stand onde chamou sua atenção o letreiro: "crepes de chocolate"!!!.. Solicitou o doce e sentou-se na única cadeira que a casa comercial oferecia. A demora para a elaboração do pedido permitiu a Maria Clara observar toda a movimentação local. Tratava-se de um aglomerado de vendedores em um micro comércio informalizado, onde misturavam-se chaveiros, jornaleiros, pequenas lancherias e muitas stands expondo calças e cachecóis coloridos. Era um emaranhado de transeuntes seguindo pela passarela a caminho do metrô.

Maria Clara sentiu-se estranha ao ambiente, acostumada a sua rota escritório, banco, carro, trânsito, na rotina diária de ir ao encontro de soluções, realizações, e todos os demais verbos que representam a ânsia de alguém que parece estar em constante construção.

Nesse intervalo de um cotidiano avassalador Maria Clara constatou estarem ali, reunidos humildes empresários que pareciam possuir em comum uma característica própria: estarem satisfeitos com sua atual condição, estarem realizados nas sua negociações, vivenciando o momento presente e desfrutando, ainda, de muita alegria. Alegria essa que Maria Clara não encontrava no seu universo onde o stress e as neuroses enchiam a vida solitária de tantos executivos.

Perdida em seus desvaneios Maria Clara ouve ao longe a vóz do vendedor : "Olha o creps de chocolate moça"!!!!!