Ainda sobre sonhos...

Ainda sobre sonhos...

Quando eu nasci, um anjo desses de nuvens – ajudante do meu Anjo da Guarda – soprou em meus ouvidos: “vai, Menina, ser sonhadora na vida!”... Eu amei minha missão e, dali mesmo, daquela nuvem, mergulhei de cabeça. Voando descompassada, aparentemente sem GPS algum. E aí quando o medo ameaçou tomar conta do meu pequeno ser... meu Anjo da Guarda sussurrou-me: “ não tenha medo, vou junto”.

E foi assim que caímos aqui. Neste mundo. Eu e Ele (Meu Anjo da Guarda).

E desde então, andamos juntos, por aí. Coletando e espalhando sonhos e planos.

O Anjo de Nuvem? Só apareceu naquele momento em minha história. Mas acredito que ele esteja me observando e me esperando para, quando eu voltar ao lugar de onde eu vim, soprar-me novamente aos ouvidos. E creio que será algo do tipo: “seja bem-vinda de volta ao lar. Você cumpriu direitinho sua missão. Agora, pode descansar, sonhando com novos sonhos para toda eternidade. Amém”.

E com estas palavras inicio o que chamo de escolhas. Sabemos que temos muitas na vida. A cada momento temos uma – específica. Mas em todas as escolhas, nós temos outra que norteia todas as demais. Eu escolhi sonhar. E outro me responderia. “E eu escolhi fazer”. E então só me vem à mente: uma coisa exclui a outra? Não imagino nenhuma ação, sem que antes a pessoa tenha sonhado em fazê-la, ainda que inconscientemente. Durante anos, toda vez que alguém me perguntava sobre minha profissão ou sobre meu “currículo”, depois que esmiuçava todas minhas atividades, eu sempre terminava com “ ...e sonhadora em tempo integral”.

Ainda hoje respondo coisas parecidas, com palavras sinônimas, ou quaisquer delas que me aparecerem no momento, porém, sempre com o mesmo fim. Este item, o de ‘olhar de sonhadora’ , para mim, é imprescindível. Não saberia (e nunca soube) desenvolver nada, nem um projeto que fosse, sem que antes eu não sonhasse enlouquecidamente por ele, e por sonhar tanto e “amiúde”, como diria Vínícius, é que este projeto passava a ser o “soneto do meu amor total”.

E quando o amor entra em tudo o que as mãos fazem, a gente não escolheu fazer. A gente já está fazendo, e em plenitude, simplesmente porque antes escolheu sonhar.

Assim, penso ser com a vida. Em todos os setores. Inclusive o pessoal.

O mundo objetivo, este que nos cobra o tempo todo, que burocratiza nossa poesia e nossos sonhos precisa entender que isso que chamamos de vida necessita de tempo. Que as coisas acontecem, mas antes elas precisam ser sonhadas, pensadas, analisadas, amadas... precisamos amar tudo o que em mãos toca nosso coração.

Só que o mundo muitas vezes é cruel. Ele, o mundo (leia-se: elas=gentes) não entende (m) a importância do sonho (pensamento)... do sonho (reflexão)... do sonho (pulsação)... do sonho (amor ou paixão)... do sonho (um monte de silêncios externos) do sonho (um monte de barulhos interiores)... do sonho (visto na e através da alma) ... do sonho (aí sim, ação)...

Ok, Ok, em muitos momentos, precisamos de ação imediata, eu sei disso, você também sabe. Mas, noventa e nove por cento das vezes são atos imediatos sem pés nem sapatos. E depois dos atos, é que se pensa como colocar sapatos em pés de cadarços desatados. E aí a bagunça. Das falas impensadas, das “julgações” ou “pré julgaçoes”, “pré conceituações”...e por aí vai.. Sem que ninguém tenha prestado atenção à importância do tempo do sonho que se estava realizando, a cada segundo, a cada silêncio, a cada instante do silêncio do segundo enquanto o barulho se anunciava mais imponente.

O mundo precisa de gente que sonha, mas sonha ‘com’ verdade e ‘na' verdade. Não para tornar os sonhos realidade. Eu não quero nunquinha, como já disse em outros momentos, que meus sonhos se tornem realidade. Não! Quero antes do mais tudo que minhas realidades sejam a permanência do sonho e da poesia que sonhei, poetizei e escolhi para viver comigo. E, consequentemente, com todos que estão ao meu redor. Acredito que o mesmo sopro do Anjo de Nuvem que me soprou ao ouvido tenha soprado ao ouvido muito bem soprado de todas as gentes... Portanto, não viemos ao mundo para viver de realidades chatas e burocratas. Viemos ao mundo para viver e fazer a realidade nos sonhos constantes e contínuos e infindáveis e infinitos!

A questão é: muita gente não parou para ouvir o sopro do Anjo que lhe soprava e lhe sopra a todo instante, seja o Anjo de Nuvens, seja o da Guarda.

Mas sempre há tempo. Felizmente. Quem sabe um Anjo agora – agorinha mesmo – esteja soprando ao seu ouvido: “sonhe mais”.

Nesta manhã, por exemplo, assim que abri minha timeline, estava ali a frase de Proust: “Se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar menos e sim sonhar mais, o tempo todo". Pensei: uia, olha meu Anjo de Nuvem dando sinal de vida?!!!

Mas aí me lembrei. Não... isso é coisa do meu Anjo da Guarda mesmo. Porque o meu – de Nuvem – já sabe que estou fazendo o que ele me soprou. O da Guarda é o que não me deixa esquecer de lembrar o tempo todo. Amém.

Bom, e aí pode ocorrer a você que está lendo tudo isso: achar que já sonhou demais e não valeu a pena. O que eu posso lhe dizer, com base em meus Anjos (de Nuvem e da Guarda)?

_ Talvez seja porque você precisa de outros sonhos... Simples assim.

(Adriana Luz – em 17 de maio de 2015)

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