Procura-se um sorriso

E naquele momento, o sorriso que lhe fazia tão bem aos dentes, desaparecera dos seus lábios. Assim, como que do nada, ele sumira, e parecia não querer mais voltar.

“Tenho mais razões para manter aquele sorriso do que para deixá-lo partir”

Repetia, na tentativa de convencer seus músculos a se moverem. Mas era em vão, ele havia partido. Quem sabe para outros lábios, mais gratos e belos que os seus, mas ainda assim, o queria de volta. Era seu sorriso, e nunca gostara muito de dividir ou doar as coisas, especialmente se importantes como essa.

Mudava as estações da radio e lembrava-se de tardes de verão, nada parecia adiantar. Outros sorrisos lhe viam a face; sorrisos bobos, sem graça, quase falsos, não se comparavam ao que queria. Aqueles acabaram se tornando caretas que, no final, viraram uma expressão emburrada.

Não perdera só o sorriso, foi-se junto uma vontade de viver, a alegria de criança. Seria isso? Estaria se tornando adulta? Teria agora aquela nuvem cinza sobre a cabeça que sempre reparara nos pais? Olhava para cima, buscando-a, e com muito alívio ainda não a encontrava. Quaisquer que fossem as razões ou mudanças, não importava, ainda o queria de volta.

Procurou nas gavetas, nos bolsos furados das calças velhas, em todos os lugares, mas nada dele aparecer. Começava a pensar em trocar de sorriso, procurar outro por aí, um melhor talvez. Mas logo expulsava essa idéia, como poderia trair aquele que há tanto tempo lhe era fiel? Andava pelas ruas apressada, cabisbaixa, vendo se o deixara cair por aí sem querer, se teria voado para debaixo de alguma arvore.

As pessoas a perguntavam o que acontecera, porque estava tão triste, respondia que não era tristeza, só perdera o sorriso e não conseguia mais encontra-lo. Falavam que esse tipo de coisa não se perde, mas caso se perdesse que era melhor desistir logo. Desistir? Como? Nunca fora de desistir, especialmente se isso incluía viver sempre com essa mesma cara de emburrada.

Essa acabou se tornando mais uma daquelas coisas das quais esquecera de procurar, provavelmente perdida no fundo de alguma gaveta. Com o tempo nem se lembrava mais de seu sorriso, talvez o percebesse em uma foto ou outra, mas deixara de ser especial, havia se tornado só um momento ou um alguém.

E assim a vida passou e nunca mais se ouviu ou viu o tal sorriso. Talvez ainda esteja naquela velha caixa, lá em cima do armário, aquela onde ninguém vai procurar.

[Já achastes o teu?]