A DERRADEIRA VALSA

Quando em meu corpo trêmulo hospedou- se aquela pequeno indício de destruição, senti um arrepio correr por toda minha estrutura, é como se dali em diante os segundos andassem ao lombo de uma tartaruga, e eu, movia- me de acordo com os impactos que sofria, era uma dança onde eu não podia conduzir os passos não eram por mim ordenados, meus braços sacudiam- se, minhas pernas já enfraquecidas, não certas por mais quanto tempo resistiriam, meu coração, ah... Esse parecia sambar. Já meus olhos encontravam- se duros, tensos, sem brilho, arriscaria- me dizer que até o medo pela primeira nota daquela orquestra fora embora depois de tantas valsas.

Sim, a arma na mão de um homem agitou meu físico, espantou meu espírito, limitou-me a vida e em recompensa fez de mim um fantoche. Mesmo que por minúsculo tempo, com a velocidade de um relâmpago vi tudo o que fui, bom ou mau, mas de nada vale todo o bem que pratiquei, já que aqui estou a pagar pelo mau que cometi. Agora olho em direção àquele que fere meu corpo, mas que muito antes, feriu meu orgulho. Guardou- me na prisão mais obscura para que me esquecessem. Desconheço o aroma das flores, dos mares, da terra. Emparedaram- me e agora neste ritmo que se segue, eu danço, e o meu único medo é de nunca poder alcançar a liberdade que há tempo me foi privada.

Olho além, e em pano de fundo há uma multidão, e nela, distintas expressões, o homem já cansado que lutou para defender sua pátria enxerga tudo aquilo como apenas mais um evento sem qualquer importância, a senhora com puros sentimentos estremece perante tal fúria. Ali também há um cão, vejo que ele está acuado com o barulho, ou talvez temendo que seja o próximo alvo.

Concentro- me outra vez no som, tudo aquilo já se tornara uma melodia composta por graves e agudas notas, e eu sou seu destino final, para mim é composta e dedicada àquela ópera, seria um desplante não ouvi-la. Sigo movendo- me de acordo com o som, com o tom, com a intensidade. E ao findar- se ali, estou certo que bailei a ultima valsa da minha vida.

Helena Pessoa
Enviado por Helena Pessoa em 20/05/2015
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