A greve de Zé Ninguém

Zé Ninguém era mestre de obras, trabalhava nos programas Habitacionais do Governo. Iria para o trabalho naquela manhã, porém, ocorreu uma greve de rodoviários, cujo saldo foi ônibus apedrejados, garagens superlotadas e trânsito livre por toda a capital. O filho de Zé Ninguém, Jairzinho foi a pé para a escola porque não havia ônibus naquela manhã. Quando lá chegou a surpresa: teve greve de alunos, pois é, greve de alunos, eles moravam no bairro, poderiam ter ido a pé, mas decidiram ser solidários aos rodoviários e opinaram por uma greve.

O amigo de Zé Ninguém, Jaime, era carteiro, andava entregando as cartas de bicicleta, mas naquela manhã os frentistas fizeram greve, devido ao aumento da gasolina. Isto afetou os salários deles porque os revendedores dos postos tiveram baixa nas vendas. O carteiro calibrava o pneu da bicicleta no posto de gasolina. Como o posto estava fechado, ele não podia calibrar o pneu e por isso também fez greve. A esposa do carteiro era Lúcia. Ela tocava um negócio de salão de beleza. Como os postos estavam em greve e os rodoviários também, não haviam clientes, por isso ela abriu as 8 h e fechou as 10 h. O movimento estava parado.

A mãe de Lúcia era idosa, Dona Carmen, ia tirar uns trocados no caixa eletrônico, porém foi vítima de saidinha bancária. Levaram seu dinheiro da aposentadoria, seus pertences, suas bijuterias. Ela ligou para o 190. O atendente era uma pessoa que era funcionário de um Call Center, sob o regime celetista. Atendeu a chamada e disse que naquele dia acontecia uma paralisação nacional dos terceirizados a favor da Lei da Terceirização. Resultado - A Polícia estava nas ruas no patrulhamento ostensivo, mas não havia qualquer trabalho para eles porque as ocorrências não lhes eram transmitidas.

Pois é ! Com tal situação precária, pensou Zé Ninguém, o que resta a mim senão parar ? Esperar mais uma Copa, mais uma Olimpíada, mais uma eleição de faz de conta, mais uma conta para pagar sem serviço incluso... Essas datas comemorativas se deve esperar com afinco, pois todos vestem a mesma camisa e costumam se chamar de conterrâneos e solidários. Ele, com um olhar furtivo, associou aquilo à profecia de Carlos Drummond - E agora José ?

21 mai 2015

Vinicius Saint' Ana

Vinicius Santana
Enviado por Vinicius Santana em 21/05/2015
Reeditado em 21/05/2015
Código do texto: T5249128
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