Sobre morangos






                  



Rubem Alves conta que certa vez um homem ia feliz pela floresta quando, de repente, ouviu o urro terrível de um leão. Ele teve muito medo e começou a correr. O medo era muito, a floresta era fechada. Ele não viu por onde ia e caiu num precipício. No desespero agarrou-se a uma raiz de árvore, que saía da terra. Ali ficou, dependurado sobre o abismo. De repente olhou para a sua frente: na parede do precipício crescia um pezinho de morangos. Havia nele um moranguinho, gordo e vermelho, bem ao alcance da sua mão. Fascinado por aquele convite, para aquele momento, ele colheu carinhosamente o moranguinho, esquecido de tudo o mais. E o comeu. Estava delicioso!
 
Ao ouvir essa história, você poderá se perguntar se o homem caiu ou não caiu no abismo. Em resposta a essa pergunta, Rubem Alves diria que esse detalhe é o que menos importa, pois é muito melhor morrer com a barriga cheia de morangos do que com vontade de comê-los! O prazer de degustar o morango deve ser superior ao medo de cair no precipício. Deve. Mas nem sempre é assim. Conheço muita gente que ficaria aguando de vontade de comer o morango, mas não se arriscaria a esticar o braço para pegá-lo.
 
São pessoas prudentes demais, sensatas demais e ousadas de menos. E essa talvez seja a grande diferença a separar uma multidão de  pessoas comuns de outras poucas que se permitem ser seduzidas pelo cheiro, pela cor, pelo sabor dos morangos que surgem em seus caminhos, mesmo correndo o risco de caírem no abismo.
 
O morango é fruta bonita, feita pra degustar e admirar.
 
Primeiro foi o cheiro...
 algo assim feito almíscar rara
substância aromática sedutora
efeito de uma química bem combinada
 
Cenário projetado com o vermelho
escarlate e carmesin causando efeitos fulgentes
num ambiente intencionalmente tentador
aquecido pela temperatura desejada
 
Gosto sem desgosto
Sabor que aguça o paladar
Vontade de comer até saciar
Os morangos que nascem por aí
sem ninguém plantar.

Imagem: José Rui Fernandes
 
Rosimayre Oliveira
Enviado por Rosimayre Oliveira em 25/05/2015
Reeditado em 25/05/2015
Código do texto: T5253983
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