DOCE INVEJA

Comovem-me os passos lentos da velha senhora, enfrentando a ladeira com a convicção de quem ainda possui a força da juventude nas pernas; força, que eu, aos 20 anos, receio já ter perdido.

Não há dia em que não se encontre os castanhos olhos, envelhecidos pelo tempo, mirando o horizonte com o encantamento de uma criança, com quase uma esperança de que se pode alcançar o sol em seu berço, lá nos confins da terra. Basta caminhar em sua direção, caminhar...

Acompanha-lhe o chapéu em dias dominados pelo astro rei; certas vezes, uma toalha para enxugar o suor que insiste em correr sobre a pele enrugada, conseqüência de tantos momentos acumulados durante uma vida. Em dias dominados pelas negras nuvens, acompanha-lhe o negro guarda-chuva; assim, encontram-se em plena harmonia, nuvens e tecido, em meio ao espetáculo da chuva.

Espreito cada movimento por entre as cortinas, escondo-me para que aqueles olhos não percebam a inveja por detrás dos meus, uma inveja inocente, mas nem por isso mais perdoável...

Pudera ter a sabedoria absorvida pelos brancos fios de cabelo? Possuir a firmeza do olhar? Enfrentar o mundo com tal disposição?

Não... Sou fraca em minha covardia.

Seguem...

Olhos fixos...

Passos firmes...

Em direção ao horizonte...

E uma doce inveja por detrás das cortinas...

Dany Ziroldo
Enviado por Dany Ziroldo em 13/06/2007
Reeditado em 09/01/2009
Código do texto: T525577
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.