Angélica Huck e as Crianças na ANTENA 10 LIGADA

As crianças na rua brincavam alegremente, seminuas, descalças, cabelos espantados; olhos grandes, esbugalhados, atentos a tudo, treinados pela mãe, atentos a tudo mesmo!

Elas voltaram mais cedo para casa porque faltam merendas nas escolas e o pessoal da limpeza anda de “férias”, quando os professores não estão em greve. Diante desta ameaça, as crianças em casa, a mãe fica muito preocupada em não poder assistir à sua novela favorita, a sessão da tarde e os programas de fofoca que dão riqui$$imos detalhes sobre a vida dos artistas e das celebridades, as pessoas vivas e importantes de verdade.

Em meio à lama, urubus e a lixarada na rua – há três dias que o carro da coleta de lixo não passa – ouve-se o pedido apavorado de: Silêncio! Para! Pare tudo! Pare para prestar atenção no plantão da Televisão!

Não era noticias sobre a reforma constitucional, não, era sobre algo muito mais grave, uma tragédia que estava prestes a acontecer e abalar o país, abalar a todos os bons brasileiros de verdade. Graças a deus que ninguém foi levado à morte! que risco! que perigo de morte! Que tragédia seria meu deus! Grita a mãe desesperada:

A mãe de quem?

Não era a mãe das babás que olhavam as crianças, era a mãe das próprias crianças, dona angélica Huck que– assentada no sofá da sala (rasgado mas era o sofá, que a acomodava na frente da Tv) – assistia, comentava e se assustava com um acidente que despencou e acontecia em seu programa de Tv preferido.

Enquanto as suas crianças, atentas, atentas a tudo, continuavam brincando na porta de sua casa, como se nada grave, gravíssimo estivesse acontecendo.