A penosa

Seu Juvêncio e Dona Luzia tinham um sonho: morar em Copacabana. Nascidos e criados em Cachoeira de Macacú, no interior do Estado do Rio, alimentavam essa fantasia: quando os filhos casassem, eles iam mudar de vida e de cidade. Tinham cinco filhos, sendo quatro mulheres e um homem. Casar filhos no interior não é tão difícil, principalmente se a família possui umas terrinhas. No casamento da Nalva, que não era a caçula, mas a última a casar, Seu Juvêncio fala para Dona Luzia:

- É, mulher, vamos pra Copacabana.

Apareceu certo dia um casal de meia idade no portão da casa de Seu Juvêncio.

- Vimos a placa de venda do seu imóvel, gostaríamos de vê-lo.

Conversa vai, conversa vem, depois de bolo de fubá com erva doce e um café cheiroso e gostoso, eles optaram por uma troca de imóvel por um período experimental de dois meses. O casal iria para o sítio e Seu Juvêncio e Dona Luzia moraria no quarto e sala deles em Copacabana. Combinaram nem mexer em móveis e eletrodomésticos.

Já em Copacabana Dona Luzia ficou encantada, muita gente, coisas bonitas, barulho e mar. Seu Juvêncio procurou a praça pra conhecer os homens do lugar.

- Juvêncio, a galinha ao molho pardo, não esqueça.

- Me disseram que tem um aviário por aqui, vou achar e comprar a galinha pra você.

Pergunta daqui, pergunta dali, Seu Juvêncio compra uma penosa “simpática”. Ele adora a farofa de tripas que sua mulher prepara com cebolinha e salsa. Embrulha a galinha deixando a cabeça de fora, evita olhar para a bicha para não criar uma relação de intimidade e ele acabar com pena dela.

- A Prado Júnior está longe? – pergunta para uma senhora.

- É melhor o senhor pegar um ônibus.

Na Nossa Senhora de Copacabana com Figueiredo Magalhães, no tumulto do sinal de trânsito, Seu Juvêncio deixa a galinha cair. A bicha se solta do pacote e corre.

- A galinha... Galinha... – grita o homem descontrolado.

Uma mulher, achando que é com ele taca-lhe a bolsa na cara.

- Galinha é sua mãe.

- Galinha... – grita com a mão no rosto.

Uns homens resolveram ajudar a mulher dando empurrões no Seu Juvêncio.

- Qualé coroa? É tarado? Vem! Mostra sua tara.

Uma frenagem. Batidas. Buzinas. Gente correndo. Caos no trânsito.

- Atropelamento. – grita alguém.

Corre. Corre. Seu Juvêncio se desvencilha dos homens e corre pra ver o que tinha dentro da rodinha de pessoas que se formou. No asfalto, jazia a penosa com o corpo misgalhado.

- Ai meu Deus! Acabou minha galinha ao molho pardo.