ONDE ESTÁS QUE NÃO RESPONDES?

Meu amor pelas letras e literatura vem de muito antes de eu ingressar na academia. Tio Edy Franco vendia livros e a melhor compradora deles era a sua irmã, minha mãe. Assim, eu cresci lendo muito. Dentre os autores de minha predileção está Antonio Frederico de Castro Alves, a quem considero perfeito nos versos, que passo a mencionar a seguir:

Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... Qual Prometeu tu me amarraste um dia do deserto na rubra penedia, infinito: galé!... Por abutre, me deste o sol candente, e a terra de Suez foi a corrente, que me ligaste ao pé... [...]

Falando pela voz do continente africano, Castro Alves reclama com Deus por não ter sido abençoado como a Ásia e a Europa, enaltecendo as belezas naturais do primeira e se referindo à segunda como “mulher deslumbrante e caprichosa, rainha e cortesã. Artista- corta o mármore de Carrara; poetisa — tange os hinos de Ferrara, no glorioso afã!... Sempre a láurea lhe cabe no litígio...Ora uma c'roa, ora o barrete frígio enflora-lhe a cerviz. Universo após ela — doudo amante segue cativo o passo delirante da grande meretriz”.

E o poeta baiano, personificando a África, prossegue se lamentando com Deus pelo seu triste destino, afirmando que o sangue de Cristo não foi suficiente para apagar seu pecado original. [...] “Cristo! embalde morreste sobre um monte. Teu sangue não lavou de minha fronte a mancha original. Ainda hoje são, por fado adverso, meus filhos, alimária do universo, eu, pasto universal... “

Após reclamar também da América, a que chama de abutre e traidora, Castro Alves termina seu poema Vozes D’África com esses versos: “Basta, Senhor! De teu potente braço role através dos astros e do espaço perdão p'ra os crimes meus! Há dois mil anos eu soluço um grito... escuta o brado meu lá no infinito, Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...”

Tenho me lembrado muito desses versos todas as vezes que ouço ou leio notícias sobre os MILHARES de imigrantes, que permanecem à deriva no mar no sudeste da Ásia, fugindo de seus ditadores malditos, das guerras, dos conflitos étnicos, das perseguições, das desumanidades... Enquanto isso, os demais países se recusam a aceitar a entrada das embarcações, não acolhem essas pessoas, não os alimentam, não os veem como filhos de Deus. Estamos falando de crianças, de mulheres, de pessoas fragilizadas, de sede, de fome, de falta de higiene, de sofrimento, de rejeição... de SERES HUMANOS!!

Diante de tamanha indiferença, eu sofro e até para escrever isso meus olhos marejam e meu coração aperta. O que posso fazer, além de chorar e doar alguns dólares para organizações como o “avaaz.org”, na esperança de que, pelo menos água, essas pessoas recebam? O que mais posso fazer que usar meu cérebro e meus conhecimentos para levar essa mensagem até você que ora me lê? Talvez eu possa me dirigir a Deus, parafraseando a pergunta feita por Castro Alves, desde 11 de junho de 1868, e é isso o que eu farei:

Deus! Ó Deus! Onde estás que não socorres Teus filhos, que perambulam pelos mares? Onde estão os bilionários desse planeta, meu Deus? O que fazem com seus ouvidos e olhos os grandes proprietários em Dubai? Melhor que nascessem cegos e surdos!! Basta, Senhor! De teu potente braço role através dos astros e do espaço a maldição eterna para todos que se dizem Teus filhos, mas na verdade, são apenas filhos do “cão”!!

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 29/05/2015
Reeditado em 20/04/2023
Código do texto: T5259048
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.