SONHOS DE CONSUMO
 
Quando a família toda se reunia nas férias de fim de ano, lá estavam meus pais, tios e avós a relembrar e contar para os demais parentes, algumas ‘coisinhas’ preciosas de nossa infância.
Uma delas eu gostava muito de ouvir, pois me fazia voltar a ser criança e reviver momentos de pura inocência.
Contava meu pai que eu, aos 4 aninhos, inconformada com o fato de minha priminha ter ‘ganhado’ um irmãozinho de presente, e eu não, certa vez, quando um avião sobrevoava nosso quintal gritei para o mesmo olhando para o alto:
- Ô vião, traiz um neném pá mim que eu te pago na caderneta do ‘seu osvaldo’.
Fato é que alguns meses depois nasceu meu irmão. Durante muito tempo eu acreditei que estava tudo certo com seu osvaldo.

Vez ou outra essas memórias me assaltam e eu fico imaginando: Que bom seria se a vida fosse simples assim como imaginam as crianças e tudo pudesse ser comprado na caderneta do seu osvaldo.

Eu iria às compras. Tenho até minha listinha de desejos. Sonhos de consumo que o dinheiro não compra, mas, tenho certeza, eu encontraria na ‘venda’ do seu osvaldo.

- Seu Osvaldo, o senhor tem aí um amigo(a), modelo original de fábrica? Não precisa ser zero km, pode ser usado, mas tem que ser de carne e osso. Coração e alma também. Quero aquele, tipo exportação, que multiplica os momentos felizes, diminui os momentos de dor, adiciona força e inspiração no nosso caminho e divide as coisas, com tamanha alegria, que me faça ter a certeza que jamais estarei sozinha. Tem aí? Então eu vou levar um. Não precisa embrulhar não. A gente vai conversando pelo caminho.

A listinha é grande. Depois eu voltaria com meu amigo para buscar o restante. Quem dera, fosse simples assim!




Imagem: Google
Suzana França
Enviado por Suzana França em 31/05/2015
Reeditado em 31/05/2015
Código do texto: T5261078
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