O retorno do Patinho Feio

Sempre considerei o conto O Patinho Feio extremamente preconceituoso. A narrativa infantil de Andersen, ao ser contextualizada nos remete à não-aceitação do diferente e a um conceito de beleza vigente, que reforça paradigmas impostos por uma sociedade que prega a uniformização estética e comportamental.

Patinhos feios são todos que não se enquadram nos padrões pré-estabelecidos pela indústria midiática e comercial. É a moça de seios naturais, corpo acima do peso ( idealizado), que não foi contaminada pela síndrome da barbie ou pela febre das mulheres frutas. Seu rosto tem espinhas, mas seu sorriso é natural e suas ideias são originais. É pato e não cisne, o garoto meio desengonçado, cujos pés não carregam um par de tênis de marca e o bolso do seu jeans surrado não comporta um celular de última geração. Patos e cisnes habitam territórios demarcados, "cada qual no seu quadrado".

Recentemente li uma outra versão da história do Patinho Feio, não menos separatista do que a original. Trata-se de O Retorno do Patinho Feio. Ao ler o título, pensei: dessa vez o cisne será aceito pela familia de patos e suas diferenças serão reforçadas positivamente e não de forma pejorativa. Que nada! Mais uma vez o cisne é rejeitado pelos patos neo-nazistas. Essa segunda rejeição é tão danosa que ele, ao se apaixonar por uma patinha se desespera com a negativa perante sua investida amorosa e resolve recorrer aos poderes de um pato bruxo, pedindo-o que o transforme definitivamente em PATO.

Era uma vez... O mais belo cisne, príncipe do lago de Astúrias que, depois de ter sua autoestima devastada, se despersonaliza, nega a si mesmo, assumindo outra identidade. Só assim, ele consegue "ser feliz para sempre"...

 
Rosimayre Oliveira
Enviado por Rosimayre Oliveira em 31/05/2015
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