Há um velho amigo bem-te-vi que me segue; demora dias, semanas, meses e anos; mas sem bem eu esperar o danado se apresenta a mim cantando o seu  canto alegre e melodioso. Aparece como quem não quer nada, de longe. Me observa, eu olho pra ele e ele para mim, trocamos olhares para termos  a certeza de que somos o mesmo um para o outro. Deve ser o  que me segue em todos as casas em que morei por todos esses anos. Às vezes penso que ele é apenas outro bem-te-vi e não aquele que vinha até mim quando residia na casa da Quadra 110 Norte, Alameda três, Lote 71; ou se é o que ia  comer mamão de um mamoeiro frondoso que tem na casa da Quadra 106 Norte, ou mesmo se é o que comia no pé de goiaba da casa da Arse 12. Quando fomos morar na Quadra 103 Norte, ele demorou, mas um dia chegou cantando vivíssimo. Fico intrigado com este bem-te-vi, sei que pode ser outro, pois há tantos por aqui, mas ele repete o mesmo padrão:  canta agitado em cima do muro, me observa, voa até árvore bica o fruto extraindo seu néctar depois desce até o muro novamente, faz um sobrevoo na frente da janela do quarto onde fico, canta o seu canto característico e desaparece. Falo isto porque me mudei novamente, estou agora na Quadra 604 Sul, Alameda seis Lote 46 e o quarto onde eu fico dá de frente para um pé carregado de acerolas do vizinho e hoje o pássaro reapareceu como por encanto depois de anos. Bem espero que seja ele, pois fez como sempre: piruetou, pousou no muro cantou mais forte e vivo como nunca tinha visto comeu acerolas voltou ao muro e como quem dissesse pra nunca mais voou alto e desapareceu cantando bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
 
Labareda
Enviado por Labareda em 07/06/2015
Reeditado em 09/06/2015
Código do texto: T5269309
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