Imagem: "arma" encontrada por mim.

 
 
Flores e Armas
 
Quando busquei minha mudinha de murta no viveiro da Prefeitura eu tinha a melhor das intenções para com ela e para com minha rua. Não foi à toa que escolhi murta. Foi por pura intenção de alegrar a calçada da minha casa com esse arbusto gracioso que a cada dia vem ganhando mais e mais espaço nas ruas da minha super-arborizada cidade (na região, Lagoa da Prata é a localidade com mais árvores plantadas nas ruas, e está, inclusive, no Guinness Book, como o município recordista mundial em plantio de árvores — 116.175 mudas plantadas, em 1997)

Mas o assunto aqui é outro. Escolhi murta, entre as inúmeras opções do viveiro, simplesmente porque sou muito fã desta arvorezinha.  Plantei três mudas e todas as três estão agora bem crescidinhas. Para meu orgulho, pegaram, vigoraram e já dão uma considerável sombra à volta da casa. Estão verdinhas, e em época de floração ficam parecendo noivas a caminho do altar: cobertinhas de flores brancas, miudinhas e cheirosas.

Coisa boa é poder ver aquilo que a gente planta com as próprias mãos ganhar altura e enfeitar um pouquinho mais a nossa rua, nossa Terra. Coisa triste é ver o que a gente planta com as próprias mãos ser depredado, ou mal usado, por gente alheia. O fato é que ando descontente, muito descontente com minhas murtas. Melhor dizendo, com elas não, pois as coitadas não têm culpa de nada: são só pequenas árvores tentando sobreviver em meio ao caos que virou esse nosso Planeta de gente deseducada. Não raro, encontro-as enfeitadas com garrafas vazias, material descartável, sacolas plásticas com restos de comida, peças de roupas (estranho, não? Mas a mais pura verdade) e tantas outras coisas que nem vou citar.

Que mal faz um pobre pé de murta a esse mundo, para ser assim tão maltratado? Nenhum. O pobre só quer perfumar os ares, dar sombra, abrigar algum animal de rua que ali deita para se resguardar do calor, pôr um pouco de verde e cheiro nestas ruas áridas e cinzentas de pó e concreto. Pois é, mas as árvores não têm esse direito! O vandalismo não permite, pois não bastassem os penduricalhos que lhes deixam nas madrugadas, ainda lhes quebram galhos, pelo simples gosto de destruir.

Tempos difíceis, muito difíceis: a rua, antes sossegada, não é mais lugar seguro. A rua, principalmente à noite, agora é área da malandragem, da bandidagem, da violência desmedida que tomou conta de tudo. E nem um simples pé de murta na calçada se mantém  a salvo. Pois não é que hoje, logo de manhãzinha, encontrei um revólver camuflado entre as flores de noiva da minha arvorezinha?! Verdade que improvisado, mas um revólver, que às sombras da noite, assombra qualquer um. E com que intento? Provavelmente o de ameaçar alguma vítima (quem sabe, eu) mais desavisada. Assalto, na certa.

 Aí,  a  pergunta: será que esse nosso mundo ainda tem jeito? Mesmo se não tiver, eu sei que a gente sempre vai encontrar uma desculpa pra ter esperança: não, não é possível que  seja tudo tão ruim assim. Apesar dos pesares,  ainda sonhamos um mundo com mais flores... E menos armas — ainda que estas sejam só de brinquedo.