E chegou o dia dos namorados

Hoje é dia dos namorados. Não é mais tão fácil namorar hoje em dia. Ainda bem que meu tempo de conquistas já passou, senão hoje, onde não se conquista, se convence, eu estaria perdido. É muita rede social para cuidar e se cuidar. Esta tudo muito na cara, não tem mais privacidade e o flerte perdeu a graça, ou ganhou mais graça, dependendo do ponto de vista.

Hoje os casais se conhecem no facebook, namoram no watszap, brigam no twitter e terminam por causa da foto no instagran. Não há mais tempo para você ser bom de lábia e conquistar aos poucos. A concorrência é muito grande. Se era difícil alguns anos atrás, quando tinha toda a escola, bairro ou grupo atrás da menina que você estava afim, imagine agora, onde todos estão conectados e interligados online.

Mas namorar é bom. Não importa o tempo ou a idade, ter um amor, ir conhecendo alguém melhor a cada dia é no minimo uma experiência interessante. Claro, hoje basta você abrir o perfil do teu pretendente para saber o que ele pensa, quem são seus amigos mais íntimos, o que ele mais gosta. Não há muito espaço mais para surpresa, mas namorar é sempre muito bom.

O namoro é a arte de impressionar outra pessoa o tempo todo. É aquele momento em que você precisa despertar o interesse da outra pessoa. Momento em que você cuida o que curte, publica ou compartilha. É uma eterna busca pelo convencimento, buscando intensamente a tatuagem imaginária estampada na testa "Eu sou a pessoa certa."

Quando comecei namorar eu tinha as mesmas preocupações que qualquer pessoa tem. Precisava parecer interessante. Precisava parecer mais e melhor do que a maioria. Precisava ser um galo cinza se destacando no terreiro. E então aproveitava todas as chances que tinha para conquistar, ou convencer, as duas eram validas na época.

Lembro-me de uma oportunidade. Me propus a fazer um jantar especial para a minha na época quase namorada. Seria na casa dela. Pensei numa receita. Pesquisei e procurei alguma coisa com a qual ela se surpreendesse e que eu me saísse bem. Eu gosto de massas e então depois de muito pensar decidi fazer um Macarrão com presunto ao molho branco. Receita gostosa, rápida e o mais importante: fácil de fazer.

Fiz ela em casa quatro vezes. Nunca comi tanta massa como naquela semana. Acertei as quatro. Perfeitas. Eu tinha me tornado um especialista em macarrão com presunto e molho branco. Não tinha como dar errado. Eu faria ela provar uma macarrão incrível. Ela amaria ele e dai para amar eu, seria um passo. Ela iria pensar toda vez que sentasse na mesa, "aquele macarrão era bom demais, o que será mais que ele sabe fazer" e ai, pimba. Ela já estava conquistada.

Chegou o sábado. Noite estrelada. Cheguei na casa dela e assumi as panelas, enquanto ela provava um bom vinho sentada na varanda. Era a noite perfeita, não tinha erro. Macarrão com presunto ao molho branco, noite estrelada, Engenheiros tocando no rádio. O que mais iria querer? Eu sabia o que mais queria! Eu queria aquela morena de olhos verdes, sorriso de menina, voz mansa e cheia de charme.

Comecei minha receita. Coloquei água numa panela para esquentar. Depois acrescentei o macarrão e fiquei ali esperando até ele estar cozido. Depois lavei em água fria (dica para massa não grudar), e guardei. Piquei o presunto e refoguei numa colher de manteiga, com sal, pimenta e um pouco de tempero verde picado.

Comecei então a fazer um molho branco com a maizena dissolvida no leite, a manteiga, queijo ralado e 1 pitada de sal. Estava tudo perfeito. O cheiro tomou conta da casa e por duas vezes ela apareceu na porta da cozinha e com um sorriso nos lábios deixou escorrer pelo canto da boca as palavras mágicas: "O cheiro esta maravilhoso".

Depois do molho pronto, arrumei em um prato, da seguinte maneira: uma camada de macarrão, uma camada de presunto, uma camada de molho branco, até completar a ultima camada com presunto. Ralei um queijo em cima e então levei ao forno. Maravilhoso.

Juro até hoje que não sei o que aconteceu. Deixei poucos segundos no forno e quando fui tirar eis uma surpresa. Aquela obra de arte, tornou-se em uma plasta incrível. Aquilo não parecia bom nem na aparência nem no sabor. Provei para tentar me consolar e imaginem, estava ainda mais ruim do que feio. Parecia que eu estava mastigando cola. Como assim? Que homem invisível trocou meu macarrão perfeito por um prato de cola?

Tive que colocar na mesa. Não tinha escolha. Fiquei observando enquanto ela olhava para aquele prato e se servindo sem muito empenho. Educadamente ela pôs o garfo na boca. Vi as veias do pescoço dela crescer. Tive vontade de chorar. Estava tudo perdido, minha tática tinha falhado e minha moreno dos olhos verdes nunca mais iria querer me ver na vida.

Esperei pelo pior. Ela iria me mandar embora. Esperei ela cuspir fora aquele garfo de cola. Fiquei esperando ela me expulsar de vez de sua vida, mas ela não fez isso. Ela nem cara de nojo ou algo do tipo fez. Ela olhou para mim e riu:

"Você tentou e isso para mim vale mais do que qualquer coisa."

Foi naquele dia que entendi. Não importa o quanto cometamos erros num relacionamento. Isso é comum e normal. Somos humanos e estamos sujeitos a errar. Somos seres falhos. O que conta no final das contas é a forma com que erramos. Se errarmos tentando acertar e se a pessoa que esta ao nosso lado nos ama de verdade, ela saberá valorizar mais a nossa tentativa do que o resultado de nossos atos.

A massa daquela noite de sábado, joguei no lixo e pedi uma pizza. Quanto a morena, estou com ela até hoje, afinal de contas jamais deixaria escapar alguém capaz de comer aquela plasta, olhar para mim e ainda rir. Aquela era a tatuagem imaginária "Essa é a pessoa certa" que eu procurava ver em outra pessoa. E você já encontrou a sua o portador ou portadora da tatuagem?

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 11/06/2015
Código do texto: T5273878
Classificação de conteúdo: seguro